sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

10 coisas erradas com o Natal

Nessa época do ano em que cansamos de ver Grinch passar na televisão, de ouvir: “Então é Natal, e Ano novo também…”, fazemos amigos ocultos onde a gente dá presentes maneiros, mas ganha meias ou cuecas em troca, enfim… Nessa linda época em que nos entregamos aos prazeres do consumismo nem sempre percebemos que tem algumas coisas muito erradas nessa festa…
1-Papai Noel bilionário
De onde vem o dinheiro que o bom velhinho usa para manter sua fábrica de brinquedos com sistema anti-radar, milhões de brinquedos, ração das renas e os gastos da mamãe Noel?


Bom velhinho... sei...
2-Árvores de Natal
Vivemos num país tropical em que faz sol quase o ano todo e quando chove continua fazendo calor, então porque a árvore de Natal é um pinheiro? Porque temos que seguir os americanos? Porque não um coqueiro ou um Pau-brasil de Natal?
3-Papai Noel tira a atenção do aniversariante
O velho gordo atraia toda a atenção pra si e deixa nosso amigo Jesus Cristo esquecido. Mas ele é gente boa, nem reclama da gente ganhar presente no aniversário dele e ele não.
4-Ceia de natal
Porque comemos um Peru na ceia? Já que o Natal é o aniversário de Jesus. Porque não comer um bolo, uns brigadeiros e uns salgadinhos? Chato deve ser ter que colocar 2010 velas no bolo…
5-Papai Noel, O omiso
Papai Noel não entrega presentes para crianças que não se comportaram durante o ano. Também não entrega presentes para crianças que não tem pais que não tenham dinheiro para comprar um presente, que o digam as criancinhas morrendo de fome na África e os chinesinhos forçados a trabalhar fazendo tênis e Ipods em fábricas sujas.

"Papai Noel não dá presente pra criança que não almoça"
6-Os Aniversariantes se ferram
Se você deu o azar de nascer no Natal ou numa data próxima, você só vai ganhar um presente, ao contrário de quem faz aniversário em outras épocas do ano.
7-Decoração natalina
As casas ficam cheias de luzinhas coloridas e enfeites de Natal, além de gastar metade do décimo terceiro com a conta de luz, as pessoas ainda estão consumindo demais. Assim os estragos aumentam no já prejudicado meio ambiente.
8- De onde vieram os duendes?
Na fábrica de Papai Noel trabalham duendes escravizados forçados a fabricar os brinquedos, até ai tudo bem. Mas de onde vieram esses duendes? A equipe gambiarra acredita que Papai Noel durante o resto do ano trabalha como Homem do Saco, usando seu saco vermelho para sequestrar crianças e forçá-las a trabalhar para ele. As orelhas pontudas são o resultado de meses de puxões de orelhas.
9- Quem é esse cara tentando descer pela chaminé?
Um gordo ridículo que vive afastado da civilização invade sua casa pra dar um presente pro seu filho. Se não fosse Papai Noel, aposto que você chamaria a polícia enquanto põem ele para correr com uns tiros de espingarda.
10- O espírito de Natal
Motivado pela televisão, você decide ajudar uma instituição de caridade, ajudar uma velhinha a atravessar a rua e até dar bom dia pro seu vizinho. O espírito de Natal não é um problema, o problema é que depois que o natal, passa todos voltam a chutar mendigos, furar fila de idosos e dançar créu.
No link da fonte tem dois vídeos que valem a pena assistir.
FONTE: http://gambiarritos.wordpress.com/2009/12/24/9-coisas-erradas-com-o-natal/

Feliz Natal a todos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

OPINIÃO DE ELOY CASA GRANDE SOBRE O ROCK ATUAL

Entrevista - Eloy Casagrande (Andre Matos)
Olá! Voltemos ao Blog com uma proposta interessante: Como Thiago Bianchi, vocalista do Shaman, declarou uma nota comentando sobre o cenário do Metal nacional atualmente, decidimos também entrar nesse assunto, perguntando à alguns músicos sobre o que eles acham desse tópico! Nosso primeiro entrevistado não poderia ser outro: Eloy Casagrande, baterista que, aos 16 anos, entrou para a banda solo do Andre Matos, que já foi frontman de bandas com o Angra, Shaman,Viper e hoje canta também no super grupo Symfonia, que contém alguns músicos que já tocaram em bandas como Angra, Stratovarius,Sonata Arctica, Helloween, Kotipelto eGammaray. Aluno de Aquiles Priester, atual baterista do Hangar, ele comenta sobre a cena Musical mundial e brasileira!

Mosh Musical - Qual é a sua opinião sobre o Rock Nacional e Internacional atualmente, Eloy?

Eloy Casagrande - Pra começar, posso comentar que o cenário atual está muito complicado hoje em dia, principalmente no Rock! Não há mais espaço para ele, pois alguns gêneros, como o Sertanejo, dominam muito! O próprio Sertanejo pode ser considerado o gênero com maior público, em ascensão e que movimenta mais dinheiro..
Eu acho que, para o Rock dar certo, as bandas, pessoas, precisam se unir mais e começarem a fazer shows juntos e parcerias, para conseguir movimentar um maior público. Existem muitas rixas e desrespeito entre bandas de rock e a união precisa se fazer presente. Assim, quem sabe, os shows contam com um maior público e mais respeito. É isso aí! Valeu!

Mosh Musical - Muito obrigado pela entrevista, Eloy!

É isso aí! Concordamos plenamente com o grande Eloy. É preciso haver uma maior parceria e respeito entre as bandas pra, quem sabe, juntos, poderemos conseguir maiores conquistas. Exemplo disso foi a grande turnê entre o Angra e o Sepultura!

Fonte: http://www.moshmusical.com/2010/12/aquelaentrevista-eloy-casagrande-andre.html

--

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Produtos midiáticos e suas representações sociais

Podemos dizer que a mídia é a principal janela interpretativa da vida contemporânea. Por ela conhecemos o mundo através dos desenhos, filmes, seriados, jornalismo, talk shows, entre outros produtos produzidos para atrair o maior número de pessoas (consumidores) possível e gerar lucros. É por ela que construímos uma idéia de como são os povos do outro lado do mundo, de como se comportam cidadãos de diversas culturas, classes e etnias. Dessa forma, podemos também absorver seus valores, sua forma de ver o mundo, seu ethos liberalista ou conservador. Ou seja, tomar a interpretação da mídia como verdade e, assim, construir a nossa visão política.
Antes de continuar, faço uma ressalva. Este texto não trata de uma maneira de mostrar que existe uma manipulação poderosa e irresistível por trás das grandes produções midiáticas de tal forma que a elite – com total domínio dos meios – controle o pensamento das massas de forma irrepreensível. Não, como se sabe, a teoria da manipulação pura e simples é uma argumentação ultrapassada.
Trata-se, portanto, de fazer uma leitura crítica e mostrar que todos os produtos da mídia carregam pontos de vista culturais e sociais específicos que nos ajudam na construção do entendimento da realidade. Ou seja, é através da difusão das "representações sociais e culturais" veiculadas na mídia, que certos valores são perpetuados, rejeitados ou transformados.
Para entender melhor o que são essas representações, apresento uma pequena análise de três produtos midiáticos atuais: o programa CQC (transmitido pela Band), a novela Caminho das Índias (Rede Globo) e o jornalismo da Folha de S.Paulo.
Custe o Que Custar
Em menos de um ano, o CQC (Custe o que Custar) ganhou notoriedade e forte audiência no país. As representações contidas no produto são variadas. Há representações ideológicas positivas e outras negativas. No lado positivo, pode-se argumentar que o programa apresenta jovens honestos, extremamente insatisfeitos com a corrupção na política e na sociedade, chegando a sofrer ameaças de censura. Assim, pode-se dizer que sua representação serve como uma espécie de "incentivo" aos jovens para tomar consciência política cidadã; exigir conduta ética de seus representantes e combater a corrupção.
Já do lado negativo, pode-se dizer que o programa possui o seguinte "eu ideológico": é totalmente formado por homens, brancos e representantes da classe média e alta paulista. Diversas piadas machistas são feitas durante o programa e, não raro, sexistas, colocando a mulher como simples objeto sexual. Não é à toa que o programa já foi processado diversas vezes. Um exemplo que ficou notório foi o caso das integrantes do grupo musical Sexy Dolls, que foram chamadas de prostitutas pelo apresentador Marcelo Tas. O lado machista do programa também é reforçado pelas piadas e brincadeiras satirizando os homossexuais, com ironias sobre comportamentos que seriam "típicos" de um gay, entre os próprios integrantes, às vezes, como se fossem vergonhosos. Assim, sua representação ideológica aponta para o homem branco heterossexual, honesto, machista, sem espaço claro para outras etnias.
Caminho das Índias
Produto cultural bem mais complexo, a novela envolve várias representações sociais e culturais bem mais diversas. Na verdade, seria necessário um livro para analisá-la corretamente à luz dos estudos culturais. Pode-se argumentar que o programa mostra como é errado e ignorante qualquer tipo de preconceito, assim como a exclusão social ao dramatizar a vida dos integrantes da casta indiana Dalits, considerados pó, e não filhos do deus supremo. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a dramatização das castas indianas aponta, de maneira velada, contra o radicalismo religioso de alguns segmentos no Brasil, como no caso dos neopentecostais e até mesmo da Igreja Católica – contrária ao uso de métodos anticoncepcionais.
Ao mesmo tempo, é possível notar alguns traços conservadores. A novela reforça os laços familiares, principalmente quando compara os valores das famílias brasileiras com as da Índia. O que leva a uma reflexão da importância do respeito aos pais, à esposa e aos filhos. Assim, de maneira sutil, acaba fazendo uma crítica aos valores liberalistas culturais, ao mostrar que as conservadoras famílias indianas estariam sendo desmembradas justamente por uma onda liberal ocidental, tornando-as infelizes.
Essa visão, no geral, acaba retomando a posição conservadora patriarcal da família, onde o homem deve ser peça fundamental para guiá-la, no intuito de torná-la bem sucedida. Caso contrário, poderá ser um desastre. Fato reforçado pela imagem da família do personagem Zeca, onde o pai, Sérgio, não "controla" os momentos impulsivos da esposa, nem coloca limites nos filhos. A falta de atitude paterna faz com que Zeca seja rebelde e arruaceiro.
A posição conservadora também é vista no personagem Raul (na ocasião, marido da Sílvia), que acabou pagando um alto preço por causa de seu adultério com a vilã Ivone. O que mostrou que pode ser extremamente arriscado e doloroso ao homem cometer adultério – não vale a pena. Já a vilã Ivone, uma das poucas mulheres independentes da trama, é mostrada como ambiciosa, criminosa, cínica e totalmente desprovida de moralidade, associando as mulheres solteiras e independentes a uma imagem misteriosa e pouco confiável.
Folha de S.Paulo
O jornalismo atual possui diversas teorias bem articuladas. Elas possibilitam análises esclarecedoras sobre o processo de produção de notícias. Uma delas, inserida no grupo que compõem as teorias construcionistas do jornalismo (newsmaking), é a Teoria Interacionista ou Teoria dos Definidores Primários. Tendo essa perspectiva em mente, vamos à pequena análise.
Todos sabemos que o jornal Folha de S.Paulo é voltado para os valores liberalistas. Portanto, sua representação social contribui para a construção de uma realidade que acredita na intervenção mínima do Estado na economia, na privatização, no liberalismo econômico e cultural. É extremamente cosmopolita e, historicamente, simpatizante dos partidos de direita.
As vozes sociais ouvidas na grande maioria das reportagens partem da subordinação às opiniões das fontes que têm posições institucionalizadas, também chamadas de definidores primários. Essas fontes definem o rumo de qualquer notícia. Como diz Nelson Traquina no livro Teorias do Jornalismo, "essa interpretação comanda a ação em todo o tratamento subseqüente e impõe os termos de referência que nortearão todas as futuras coberturas".
Assim, quando a Folha de S.Paulo ouve algum "mega economista" dizendo que o governo deve enxugar sua folha de pagamento, se posicionando contrariamente à grande criação de concursos públicos, parte de uma visão que defende os interesses da classe de empresarial hegemônica. Ela gera uma série de outras reportagens que partem da primeira visão liberalista. A representação interpretativa inicial, portanto, acaba saindo como uma verdade norteadora das reportagens seguintes, inclusive quando se ouve opiniões contrárias.
Prevalece sobressalente, portanto, a crença num mundo liberalista econômico e contrário ao crescimento do Estado. Recentemente, por exemplo, a Folha de S.Paulo defendeu, em editorial, o fechamento da TV Brasil, afirmando que a mesma é um claro sinal de desperdício do dinheiro público. De maneira bem clara, quis afirmar que a melhor saída será sempre a iniciativa privada.


JN
Falar de telejornalismo no Brasil é falar do Jornal Nacional. O programa dita normas, formatos e conceitos sobre o fazer jornalístico no horário nobre. Há mais de 40 anos o programa se mantém, na maioria das vezes, em primeiro lugar de audiência, o que causa na concorrência uma busca incessante pela superação do JN. No entanto, há exceções. O Furo MTV busca referências no JN, não para competir em termos de audiência, mas para construir seus discursos pautados por uma outra lógica, a sátira.
O primeiro paralelo que podemos traçar do JN com o Furo MTV passa pela composição dos apresentadores. Nos dois programas é um casal que apresenta. É importante destacar que no JN o Willian Bonner e a Fátima Bernardes são casados, o que consolida, de alguma forma, ainda mais essa idéia de “casal”. Roger Silverstone, em seu texto, Por que estudar a mídia?, faz alguns apontamentos que considero importante destacá-los. Em um deles, que trata sobre o nosso tempo, ele diz: Nossa mídia existe no tempo… ele [o tempo] é como elas [as mídias] nos contam, não apenas nas fantasias subjuntivas de “como se”, mas por nossa capacidade de nos reconhecer, em alguma parte, durante algum tempo, dentro delas. Analisando sob esta perspectiva e considerando que vivemos uma época de efervescência sexual, onde quase tudo suscita o ideal de corpo perfeito, podemos entender melhor porque Willian e Fátima, que são jovens e bonitos, substituíram Cid Moreira e Sergio Chapelin. No Furo MTV, telejornal da emissora da Abril, Bento Mineiro, que as vezes é chamado de “galã da Favorita”, telenovela global que atuou anteriormente, e Dani Calabresa são os apresentadores, numa clara alusão ao JN.
Seguindo o mesmo raciocínio podemos dizer que o JN dá uma aula de pornografia, lição que é captada pelo Furo MTV, mas em um tom de sátira. Antes de continuar, faz-se extremamente importante desconstruir o conceito de senso comum que temos sobre pornografia. É preciso antes de dar prosseguimento, explicar o que é, para esta análise, erotismo e como ele se configura: O lugar mais erótico de um corpo não é onde o vestuário se entreabre? Na perversão (que é o domínio do prazer textual) não há “zonas erógenas”… é a intermitência, como disse muito bem a psicanálise, que é erótica; a intermitência da pele que cintila entre duas peças (as calças e o suéter), entre duas bordas (a camisa entreaberta, a luva e manga); é essa cintilação que seduz, ou ainda: encenação de um aparecimento-como-desaparecimento. (Barthes, 1976, p. 9 -10). Para Silverstone, o pornográfico é o canto rasgado da vida erótica da mídia e de nossa vida erótica.
O mais interessante nesse processo é perceber características do JN fora do JN. Quando outras emissoras se apropriam de táticas globais e, sobretudo do JN, para construírem seus discursos é que percebemos como sua matriz é constituída. Somente quando vemos os apresentadores do Furo MTV, Bento Mineiro, um pseudo-galã, e Dani Calabresa, uma loira com sotaque interiorano, é que conseguimos pensar naquilo que tem de pornográfico no JN, ou seja, Willian Bonner e Fátima Bernardes. Por fim gostaria de acrescentar: alguém arriscaria dizer que o JN é mais “jornalístico” que o Furo MTV ? Penso que maioria das pessoas diriam que sim, mas aviso, o Furo MTV é mais severo em seu noticiário político que a própria Globo, que nunca teve muito interesse em bater nos medalhões da política brasileira.

Escola Neoclássica

A Economia Neoclássica é uma corrente de pensamento econômico, para qual o Estado não deveria se intrometer nos assuntos do mercado, deixando que ele fluísse livremente, ou seja, o Liberalismo econômico.
Surgida em fins do século XIX com o austríaco Carl Menger (1840-1921), o inglês William Stanley Jevons (1835-1882) e o suíço Léon Walras (1834-1910). Posteriormente, se destacaram o inglês Alfred Marshall (1842-1924), o sueco Knut Wicksell (1851-1926), o italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) e o estadunidense Irving Fisher (1867-1947).
Pode ser dividida entre diferentes grupos, como a escola Walrasiana, a escola de Chicago, a escola austríaca. O modelo de Macroeconomia proposto pelos clássicos, que acreditavam na “mão invisível” do mercado, consagraram três princípios como fundamentos da macroeconomia:
• As forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego, ou seja, quando a demanda e a oferta por mão-de-obra se igualam;
• As variáveis reais da economia e os preços relativos seguem trajetórias diferentes e independentes da política monetária, ou seja, a quantidade de moeda não afeta a capacidade produtiva e laboral de uma economia;
• A quantidade de moeda afeta apenas o nível geral dos preços.
Desenvolvimento Tecnológico
Para os economistas filiados à esta corrente, o progresso técnico torna o fator trabalho mais produtivo e, desde que a oferta de trabalho reaja positivamente ao salário-real, elevará o nível de emprego e o salário real e levar a uma queda no nível de preços.
A evolução do pensamento econômico no século XIX

O século XIX iniciou sob a influência crescente das idéias do liberalismo clássico e dos efeitos da Revolução Industrial. Graças a essas influências, os principais países europeus foram consolidando a organização de suas economias pondo em prática os princípios consagrados por aquela corrente de pensamento: propriedade privada dos meios de produção, livre iniciativa empresarial, busca incessante do lucro, mercado e sistema de preços como principais orientadores das decisões dos agentes econômicos (o que, quanto, como e para quem produzir), tudo isso sob um cenário em que o Estado reduzia cada vez mais sua presença na economia, em contraste com o elevado grau de intervenção que havia prevalecido nos séculos anteriores em razão do predomínio da visão mercantilista, que pode ser sintetizada no binômio absolutismo político + intervencionismo econômico.
Foi nesse cenário que os países pioneiros no processo de industrialização foram expandindo sistematicamente o volume de produção, aumentando consideravelmente a oferta de bens e serviços colocados à disposição de suas respectivas populações. Além disso, ampliavam mais e mais a diferença que os separava dos países que não conseguiam dar início a seus processos de industrialização, tanto na Europa como, principalmente, fora dela, nas longínquas terras da Ásia, da Oceania, da África e da América do Sul. A única exceção fica por conta dos Estados Unidos da América, cuja população constituída em boa parte de imigrantes europeus e seus descendentes já demonstrava um espírito empreendedor, o que permitiu que em algumas regiões do norte e do leste a industrialização começasse precocemente, poucas décadas depois de haver sido iniciada nos países pioneiros da Europa.
Porém, ao contrário do que imaginara Adam Smith, a Revolução Industrial não conduziu ao paraíso. Decorrido mais de meio século do início da Revolução Industrial observava-se que a segurança da antiga economia agrícola - quase artesanal - dos vilarejos fora destruída. Com a urbanização desordenada que ocorreu em torno dos centros industriais emergentes, o novo industrialismo trouxe fábricas cada vez maiores, e os trabalhadores passaram a viver apinhados em sua vizinhança, em favelas ou cortiços, onde o vício, o crime, as doenças, a fome, a miséria, a prostituição e a promiscuidade constituíam o cenário mais comum. Os acidentes industriais ocorriam com freqüência, quer em função das longas jornadas de trabalho, quer em virtude do despreparo dos trabalhadores para interagirem com máquinas que iam sendo incorporadas ao processo produtivo sem que houvesse qualquer treinamento para os que teriam que manejá-las. Tais acidentes traziam miséria, não havendo qualquer compensação para as famílias dos aleijados ou mortos. Não existiam direitos políticos para os assalariados e os sindicatos eram proibidos.
Nessas condições, a pobreza das massas parecia cada vez mais opressiva (uma vez que agora ficava mais aparente já que concentrada nos centros industriais emergentes) e contrastante (à medida que as grandes fortunas se multiplicavam). A constatação de que o simples aumento do volume e da diversidade dos bens e serviços produzidos não significava o fim da pobreza, uma vez que a concentração excessiva da renda e da riqueza dava a muitos a impressão de que a desigualdade estava até se expandindo provocou, nas décadas iniciais do século XIX, o surgimento de duas correntes na história do pensamento econômico: a primeira, de diversos reformadores sociais, entre os quais Saint-Simon, Fourier e Robert Owen, que se tornaram conhecidos como socialistas utópicos, e que acreditavam numa mudança para uma sociedade mais justa por meio de reformas pacíficas e até apoiadas pelos grandes detentores de terra e de capital; a segunda, que tem em Stuart Mill seu exemplo mais ilustrativo, é de uma espécie de dissidência clássica, ou seja, pensadores que tiveram formação econômica através das idéias clássicas de Smith e de Ricardo, mas que foram pouco a pouco se afastando delas e incorporando em suas proposições doses crescentes de preocupação social juntamente com as primeiras idéias utilitaristas.
O fracasso dos socialistas utópicos em persuadir os capitalistas a aderirem a seus projetos humanitaristas fortaleceu ainda mais as idéias de Marx que defendia, entre outras, a tese de que a transição para uma sociedade mais justa só poderia ser feita por meio de um processo revolucionário - luta de classes - dado o caráter exploratório das relações assalariadas de produção, principal elemento definidor do modo de produção capitalista. Em sua pregação, Marx propunha a eliminação da propriedade privada dos meios de produção, que passariam a ser coletivos e administrados por meio de órgãos centrais de planificação, aos quais incumbiria responder as questões fundamentais da economia: o que, quanto, como e para quem produzir.
A rápida penetração dessas idéias, em especial entre os intelectuais e nos meios acadêmicos, estimulou o aparecimento quase simultâneo de trabalhos que apresentavam considerável grau de convergência, levados a cabo por pessoas diferentes, em lugares diferentes, e que trabalhavam independentemente umas das outras. Entre elas destacam-se William Stanley Jevons, na Inglaterra, Carl Menger, na Áustria, e Léon Walras, na Suíça. Nascia, nas pessoas desses três grandes nomes, o que se tornou conhecido como a Escola Marginalista em três ramificações: Escola de Cambridge, Escola Austríaca e Escola de Lausanne, respectivamente.
Embora reconhecendo a existência de problemas sociais não resolvidos em mais de um século de predomínio das idéias clássicas na organização econômica dos principais países da Europa, os marginalistas discordavam dos socialistas em geral - e dos marxistas em particular - sobre a melhor forma de solucionar esses problemas. Tinham, no entanto, uma certeza: não deveria ser através da modificação da estrutura de produção capitalista, que consagrava os princípios liberais clássicos da propriedade privada, da livre iniciativa e da busca incessante do lucro. Afinal, o próprio Marx reconhecera a eficiência disso ao afirmar que "durante pouco mais de cem anos em que se encontra no poder, a burguesia (e o capitalismo) criou forças produtivas mais sólidas e colossais do que todas as gerações anteriores juntas".
Vindo, portanto, em defesa dos princípios clássicos na época tão combatidos pelos socialistas, os marginalistas dessa primeira geração fizeram a apologia do laissez-faire e foram responsáveis por algumas contribuições notáveis para a evolução da teoria econômica, entre as quais merecem destaque, segundo Oser e Blanchfield:
Os marginalistas concentravam sua atenção sobre a margem - o ponto de mudança em que se baseiam as decisões - para explicar os fenômenos econômicos. Estenderam a toda teoria econômica o princípio marginal que Ricardo desenvolveu em sua teoria da renda.
A abordagem marginalista era predominantemente microeconômica, na qual a tomada de decisão do agente econômico individual - seja uma pessoa física ou uma empresa - assumia importância central. Isso significa a retomada da tradição liberal da análise econômica, e se contrapõe frontalmente à análise marxista que tem por foco central as relações de classes.
Os marginalistas tomavam por base um sistema econômico baseado na concorrência perfeita (considerando, ocasionalmente, o monopólio absoluto como extremo oposto). Foram, com exceção da corrente austríaca, responsáveis pela forte expansão do uso de métodos quantitativos na construção de seus modelos de análise, que pretendiam ser uma abstração da realidade. Nesses modelos, o cenário dominante era constituído de um grande número de empresários pequenos e médios, que agiam independentemente, existindo muitos compradores, muitos vendedores, produtos homogêneos, preços uniformes, e sem influência da propaganda.
A demanda torna-se a força primária para a determinação de preços. Ela, por sua vez, depende da utilidade marginal, que é um fenômeno psíquico. Portanto, a economia tornou-se subjetiva e psicológica. Supunham que as pessoas seriam racionais quanto ao equilíbrio de prazeres e desprazeres, ao medirem as utilidades marginais de bens diferentes e ao equilibrarem necessidades presentes e futuras. Sua abordagem era hedonista, supondo que os estímulos dominantes na tomada de decisão de qualquer agente econômico ocorrem no sentido de maximizar o prazer e/ou minimizar o desprazer.

Principais contribuições de Marshall.
Fica muito difícil reduzir a extraordinária contribuição de Marshall num texto com as características destes das Iscas Intelectuais. Nesse sentido, o que procurarei fazer a seguir é uma síntese daquelas que considero suas mais relevantes contribuições para a evolução da teoria econômica e da história do pensamento econômico.

Economics X Political Economy
Todos os textos de Economia anteriores a Marshall referem-se à matéria tratando-a de "economia política" (political economy). Marshall, embora se opusesse ao conceito de homo economicus, por considerá-lo excessivamente simplificador, e procure considerar o indivíduo enquanto agente econômico sempre inserido num determinado contexto sociocultural, abandonou essa denominação e passou a se utilizar da expressão "economia" (economics).
Nesse sentido, como afirma Ricardo Feijó, Marshall representou um marco institucional na história da moderna Economia. Introduziu o nome Economics em substituição ao anterior Political economy, para designar o novo estilo de se fazer ciência econômica; fundou o primeiro curso especializado de Economia e seu livro de 1890, Princípios de economia, foi o principal manual dessa disciplina por mais de 30 anos.
De fato, ainda segundo Ricardo Feijó, antes de Marshall, em Cambridge a Economia era ensinada apenas como parte das ciências históricas e morais, e não era objeto de trabalhos mais avançados. Marshall fez da Economia uma profissão. Durante muitos anos ele lutou, nem sempre com sucesso, para ampliar o âmbito da Economia, e só em 1903 inaugurou-se um novo curso especializado em Economia, o primeiro curso exclusivamente dedicado à formação do profissional nesse campo de que se tem notícia (Na verdade, a nova escola de Economia de Cambridge intitula-se "Economia e Política", conservando esse nome até hoje. Como indica o nome da escola, trata-se de especialização também em Ciências Políticas). Com ele, tal ciência (a Economia) adquire o status de saber autônomo cientificamente qualificado, uma área técnica repleta de conceitos não acessíveis ao não iniciado.

Uma visão dotada de enorme preocupação social
Embora os marginalistas e os neoclássicos, pelo fato de se contraporem às reformas propostas pelos socialistas, tenham ficado com a imagem de reacionários ou conservadores, fica difícil admitir tal imagem como válida quando se conhece não só como Marshall concebia a economia, mas também quando se observa qual deveria ser, na sua opinião, a principal preocupação do estudo da economia. Sua definição de economia mostra a caráter pragmático de como ele a entendia:
A economia é um estudo da humanidade na atividade comum da vida; ela examina a parte da ação individual e social que está mais intimamente ligada aos resultados e ao uso dos requisitos materiais do bem-estar. Sua preocupação com as questões sociais de uma forma geral - e com a pobreza em particular - é constante, como se observa na Introdução de sua obra magna, Princípios de economia, na coleção Os Economistas, escrita por Ottolmy Strauch:
Marshall passou então a preocupar-se com a questão social sendo levado à "percepção de que a pobreza estava na raiz de muitos males sociais", o que acabou conduzindo-o ao estudo da Economia. Matéria para a qual, como muitos dos grandes economistas contemporâneos, nunca fez curso universitário regular e especializado, já que na época a matéria não existia senão como apêndice ou complemento de outros cursos, tal qual como no Brasil de algumas décadas atrás. Segundo a sua convicção, que manteve inalterada pela vida inteira, o problema da pobreza era não somente fundamental para a Economia, como a sua própria razão de ser. Como ele próprio viria mais tarde a dizer nos Princípios: "o estudo das causas da pobreza é o estudo das causas da degradação de uma grande parte da humanidade".

Ênfase na educação
Outro aspecto que vem reforçar o elevado grau de preocupação social de Marshall é a maneira enfática como ele se referiu à importância da educação para a redução das desigualdades sociais e, por extensão, para o crescimento econômico de qualquer país, como fica claro na epígrafe de um dos livros menos conhecidos do Prof. Eduardo Giannetti, Liberalismo X Pobreza: "O mais valioso de todos os capitais é aquele investido em seres humanos". Nesse livro, Giannetti chama a atenção para um aspecto normalmente ignorado por todos os que se opõem à visão econômica liberal, qual seja, sua elevada preocupação com a educação.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada total e pelo menos parcialmente provida pelo Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação popular seria uma resposta muito mais eficaz do que a "Poor Law" no combate ao pauperismo. Porém, dentre todos os autores da tradição liberal iniciada com os clássicos e continuada pelos marginalistas e neoclássicos que mostraram preocupação com a educação, foi Marshall, segundo Giannetti, quem mais se destacou nesse aspecto:
Entre os economistas ingleses na tradição liberal-utilitária, foi, sem dúvida, Alfred Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da formação de capital humano - do investimento na qualidade da força de trabalho - para um programa de reforma social eficaz, voltado para a emancipação da pobreza e a promoção do desenvolvimento econômico.
Os dois trechos citados a seguir ilustram com impressionante clareza essa enorme preocupação com que Marshall analisava a importância do investimento em educação para o desenvolvimento de uma nação. O primeiro retrata o enorme desperdício humano e econômico da sociedade inglesa do começo do século XX, o qual, como bem observa Giannetti, não difere muito da situação latino-americana e brasileira da atualidade:
Nas camadas mais baixas da população, o mal é grande. Pois os parcos meios e educação dos pais e sua relativa incapacidade de antever, com um mínimo de realismo, o futuro impede-nos de investir capital na educação e treinamento dos seus filhos, com a mesma liberalidade e audácia com que o capital é aplicado no aprimoramento da maquinaria de qualquer fábrica bem administrada (...) Por fim, eles, os filhos de pais pobres, vão para o túmulo carregando consigo aptidões e habilidades que jamais foram despertas. Aptidões, que, se tivessem podido dar frutos, teriam adicionado à riqueza material do pais - para não falarmos em considerações mais elevadas - diversas vezes mais do que teria sido necessário para cobrir as despesas de prover oportunidades adequadas para o seu desenvolvimento (...) Mas o ponto sobre o qual devemos insistir agora é que o mal tem caráter cumulativo. Quanto pior a alimentação das crianças de uma geração, menos irão ganhar quando crescerem e menores serão seus poderes de prover adequadamente as necessidades materiais de seus filhos e assim por diante nas gerações seguintes. E, ainda, quanto menos suas próprias faculdades se desenvolvam, tanto menos compreenderão a importância de desenvolver as melhores faculdades de seus filhos e menor será sua capacidade de fazê-lo.
O segundo reforça o caráter cumulativo do desperdício mencionado no trecho anterior e dá ênfase à importância da concentração da maior parte do investimento em capital humano na educação básica da massa da população:
Não existe extravagância mais prejudicial ao crescimento da riqueza nacional do que aquela negligência esbanjadora que permite que uma criança bem-dotada, que nasça de pais destituídos, consuma sua vida em trabalhos manuais de baixo nível. Nenhuma mudança favoreceria tanto a um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma melhoria das nossas escolas, especialmente aquelas de grau médio, desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de estudo, permitindo, assim, ao filho inteligente de um trabalhador simples que ele suba gradualmente, de escola em escola, até conseguir obter a melhor educação teórica e prática que nossa época pode oferecer.

Incorporação da Matemática na Economia
Com sua sólida formação em Matemática, Marshall deu enorme contribuição para a incorporação de métodos quantitativos à análise econômica, vale dizer, a utilização sistemática de equações matemáticas, gráficos e diagramas numéricos. Com isso, prestou relevante serviço no sentido de dar mais credibilidade à Economia perante a comunidade científica. Na época - final do século XIX - o critério da verificabilidade era predominante para que uma dada teoria fosse reconhecida como científica, isto é, só eram aceitas como científicas as proposições ou hipóteses que pudessem ser verificadas (comprovadas) por meio de medição, demonstração matemática ou experiência laboratorial. Nesse sentido, ao "traduzir" a teoria econômica para a linguagem matemática, a contribuição de Marshall para que a Economia fosse aceita como uma ciência foi fundamental.
Na verdade, essa incorporação da Matemática à teoria econômica foi conseqüência natural do amplo conhecimento que Marshall possuía do assunto, como bem descreve Ottolmy Strauch:
Tal como seu contemporâneo Karl Marx, Marshall passou da Filosofia para a Economia, só que no seu caso foi pela via matemática. Descrevendo sua passagem para a Economia, recordava ele já no final da vida: "Da Metafísica fui para a Ética, e achei que a justificativa das condições existentes da sociedade não era fácil". Um amigo, com quem discutia questões sociais, retrucou-lhe um dia: "Você não diria isso se soubesse Economia". Sua iniciação no campo econômico processou-se, segundo ele próprio, da seguinte forma: "Minha familiarização com a Economia começou com a leitura de Mill, enquanto ainda estava ganhando minha vida ensinando Matemática em Cambridge, e traduzindo suas concepções em equações diferenciais até onde pudesse ir, e, em regra, rejeitando aquelas que a isso não se prestassem... Isso foi, principalmente, em 1867/68". "Enquanto estava dando aulas particulares de Matemática, traduzi o quanto possível os raciocínios de Ricardo para a Matemática e empenhei-me em torná-los mais gerais".
Muitos historiadores do pensamento econômico, entre os quais Araújo, Brue e Feijó, fazem questão de ressaltar que apesar de seu extraordinário domínio da Matemática e da incorporação da mesma à teoria econômica - para desespero de muitos estudantes -, Marshall jamais deixou que a Matemática se sobrepusesse à preocupação social básica da Economia. Ao contrário, utilizou-a como um importante instrumento analítico e metodológico, mas se opôs ao seu uso abusivo na Economia, tanto é verdade que colocou quase todos os gráficos e diagramas nos rodapés e apêndices de suas obras. Essa consciência sobre o papel assessório da Matemática fica clara numa famosa carta em que relata sua experiência pessoal com a mesma, onde escreve: "Um bom teorema matemático relativo a hipóteses econômicas é altamente improvável de ser boa Economia".
Tal idéia fica ainda mais reforçada num dos trechos mais reproduzidos de sua autoria:
Um bom teorema matemático que aborde hipóteses econômicas dificilmente será boa economia; e creio cada vez mais nas seguintes regras: 1) Use a matemática como abreviação e não como método de pesquisa. 2) Utilize-a até ter terminado. 3) Traduza para o inglês. 4) Ilustre, então, com exemplos importantes da vida real. 5) Queime a matemática. 6) Se não conseguir realizar a 4, então queime a 3.

Valor
Durante muito tempo a determinação do valor de um bem ou serviço enfatizou o lado da oferta - o custo de produção - como único determinante do valor. Essa idéia se consolidou com David Ricardo, na Escola Clássica, tornando-se conhecida como a teoria do valor trabalho, segundo a qual o valor de um bem decorre da quantidade de trabalho necessário à sua produção. Essa idéia foi posteriormente aproveitada por Marx, que dela partiu para desenvolver a teoria da exploração (mais-valia).
Os primeiros marginalistas, como observam Oser e Blanchfield, voltaram-se para o extremo oposto e enfatizaram a procura, excluindo completamente a oferta. Para eles o valor de um bem era determinado pela utilidade que esse bem proporcionava a uma pessoa, idéia que se tornou conhecida como teoria do valor utilidade. Ao contrário do que ocorria com a teoria do valor trabalho, para a qual o valor era algo objetivo, medido pelo número de horas incorridas na produção de um determinado bem ou serviço, o valor para os marginalisas tornou-se subjetivo, uma vez que a utilidade proporcionada por um determinado bem ou serviço variava de pessoa para pessoa.
Marshall sintetizou as duas visões sobre a determinação do valor de um bem ou serviço, a baseada na oferta e a baseada na procura, naquilo que pode ser chamado de economia neoclássica. Assim, segundo Oser e Blanchfield, a economia neoclássica pode ser vista como "o marginalismo com um reconhecimento sensato da contribuição remanescente da Escola Clássica".
Ottolmy Strauch também destacou esse aspecto na Introdução dos Princípios de economia da coleção Os Economistas:
Justamente numa época em que a controvertida teoria do valor dividia os economistas em posições irreconciliáveis, Marshall conseguiu, graças principalmente à introdução do elemento tempo como fator na análise, reconciliar o princípio clássico do custo de produção com o princípio da utilidade marginal, atribuído à escola austríaca (Menger), Walras e Jevons mas que, diz Marshall, lhe foi inspirado por Von Thünen. "Ao introduzir o fator tempo na análise econômica pela distinção entre curtos e longos períodos, ele procurou, com efeito, determinar o papel do custo objetivo de produção (longos períodos) e o da utilidade marginal (períodos curtos) na determinação do valor dos bens e serviços".

Equilíbrio parcial
Outra grande contribuição de Marshall refere-se à noção de equilíbrio parcial. Até então, as análises desenvolvidas a esse respeito consideravam a idéia de equilíbrio geral, sendo Walras reconhecido como um dos maiores - senão o maior - especialistas no assunto.
De acordo com Ottolmy Strauch, o método de "análise parcial" ou "análise de equilíbrio parcial", também chamada de abordagem de Ceteris paribus (iguais às demais coisas, isto é, sem que haja modificação de outras características ou circunstâncias) é das mais famosas e, belas, controvertidas contribuições de Marshall. Consiste, essencialmente, em compartimentar a economia de modo que os principais efeitos de uma mudança de parâmetro num determinado minimercado possam ser ressaltados sem considerar os efeitos colaterais em outros mercados, inclusive as reações, ou feedback destes.
Oser e Blanchfield também se referem a essa contribuição considerando que a mesma contribui para tornar a análise econômica mais útil e seus resultados mais realistas:
O método de análise parcial pode ser justificado com base no fato de que nos permite investigar os diversos estágios de fenômenos complexos. Consideramos a mudança de uma variável de cada vez, supondo que o restante permaneça constante. Os problemas de nossa sociedade terrivelmente complicada com suas inúmeras variáveis podem, com isso, ser simplificados e pesquisados de maneira ordenada e sistemática. À medida que introduzimos variáveis sucessivas, aproximamo-nos de situações mais realistas. Supor que o restante permanece constante, exceto o fator que permitimos variar, é uma técnica empregada durante todo o tempo. Se afirmarmos "vou ao cinema esta noite", estamos implicitamente fazendo centenas de suposições sobre outras circunstâncias que não deverão mudar inesperadamente. Por exemplo, estamos supondo que não quebraremos uma perna ou morreremos do coração durante o dia; que o cinema não pegará fogo; que uma enchente ou um terremoto não bloqueará a entrada para a cidade; que não surgirá nada mais interessante para fazer à noite.

O legado de Marshall e da Escola Neoclássica
Considerando que a Escola Neoclássica foi uma extensão da Escola Marginalista, pode-se afirmar que sua influência permanece acentuada na Economia até os dias de hoje, uma vez que gerações sucessivas têm contribuído para o aperfeiçoamento e a atualização de suas diversas ramificações.
A Escola de Cambridge, que teve início com Jevons e teve continuidade com Marshall, seguiu depois com importantes economistas, destacando-se entre eles A. C. Pigou. A Escola Austríaca, iniciada com Menger, teve depois von Wieser, Bohn-Bawerk, Ludwig von Mises e Friedrich Hayek (ganhador do Prêmio Nobel em 1974). Já a Escola de Lausanne, iniciada com Walras, teve em Vilfredo Pareto seu principal seguidor.
Dentre as ramificações posteriores, pode-se assinalar também a vertente que se tornou conhecida como economia monetária (ou monetarista), aí se destacando John Gustav Knut Wicksell, Irving Fisher, Ralph George Hawtrey e Milton Fridman (ganhador do Prêmio Nobel em 1976). Pode-se identificar ainda o vasto desenvolvimento da economia matemática (econometria) como uma conseqüência da influência da Escola Neoclássica, assim como os progressos mais recentes no campo da teoria dos jogos.
Mas duas das maiores preocupações de Alfred Marshall continuam sendo não apenas atuais, mas seguem ainda dando muita dor de cabeça aos economistas contemporâneos. Uma delas, o combate à pobreza, continua gerando muitas discordâncias e, em muitas partes do mundo, as políticas econômicas levadas a cabo com esse objetivo apresentaram resultados pífios. Vale a pena, a esse respeito, dar uma lida no artigo Receita para combater a pobreza ainda é um mistério para os economistas, de autoria de Davis Wessel e reproduzida em O Estado de S. Paulo em janeiro passado.
A outra, sobre a importância econômica da educação, segue inspirando renomados economistas contemporâneos, entre os quais os laureados com o Nobel de Economia, Theodore W Schultz (1979), Gary Becker (1992) e James Heckman (2000).
A divisão entre Polytical Economy e Economics permanece também dando margem a acalorados debates e muitas trocas de farpas. Nas reuniões anuais da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (ANPEC), costumam haver sessões separadas da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e da Sociedade Brasileira de Econometria (SBE). Os adeptos de cada uma dessas associações costumam dizer que o que se faz na outra não é, propriamente, economia!
Referências e indicações bibliográficas

AVENA, Armando. Marx e Marshall: uma entrevista com Deus. Em A última tentação de Marx. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, pp. 23 - 31.

BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Coleção Tudo é História, 52)

BUCHHOLZ, Todd G. Alfred Marshall e o pensamento marginalista , capítulo VII de Novas idéias de economistas mortos. Tradução de Luiz Guilherme Chaves e Regina Bhering. Rio de Janeiro: Record, 2000, pp. 173 - 203.

CANAVAN, Bernard. Economistas para principiantes. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1983.

GIANNETTI, Eduardo. Liberalismo X Pobreza. São Paulo: Inconfidentes, 1989.

MARSHALL, Alfred. Princípios de economia: tratado introdutório. Tradução revista de Rômulo de Almeida e Ottolmy Strauch. Introdução de Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Os Economistas)

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

WESSEL, David. Receita para combater a pobreza ainda é um enigma para os economistas. The Wall Street Journal Américas. O Estado de S. Paulo, 11 de janeiro de 2007, p. B10.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A maior banda de “Power Metal” de todos os tempos (nascida na Filândia, hoje reconhecida no mundo)

No ano de 1996 Tony Kakko (vocais e teclado) e Pentti Peura (baixo) entraram na banda que inicialmente se chamava Tricky Beans. Com esse nome e essa formação eles gravaram três demos, Friend 'till the End, Agre Pamppers e PeaceMaker. Na época, o estilo da banda era voltado para o Hard Rock, e tinha poucas semelhanças com o Power Metal que os tornou conhecidos.
Logo no ano de 1997 começaram as mudanças. Primeiramente no nome, que agora era Tricky Means. Depois, o baixista Pentti Peura deixou a banda, e pra completar, o grupo começou a procurar um estilo próprio, um gênero que favorecesse a harmonia entre os teclados e a voz limpa de Tony Kakko. Eles ficaram até 1999 procurando esse estilo, e quando acharam foi lançada a demo "Fullmoon". Mas antes disso, ainda em 1998, Janne Kivilahti fora chamado para ocupar a vaga de baixista da banda, substituindo Penti Peura.
A demo "Fullmoon" foi enviada para a gravadora Spinefarm Records, que se interessou pelo som deles e os contratou. Então a banda mudou de nome novamente, vindo a se chamar Sonata Arctica, e em setembro de 1999, lançou seu primeiro álbum, Ecliptica. O álbum apresenta as novas e melhoradas versões das canções que fizeram parte da demo lançada em 1999.
Em 2000, Tony Kakko, que cantava e tocava teclado, decidiu se focar apenas nos vocais e chamou Mikko Härkin para ser o novo tecladista da banda. Ainda em 2000, o Sonata Arctica abriu os shows dos veteranos do Stratovarius na sua turnê européia. Em outubro do mesmo ano a banda lança o EP Successor, que contém covers de bandas como Helloween e Scorpions, além de uma versão editada de "Fullmoon", versões lives e duas músicas inéditas, "Shy" e a primeira versão de "San Sebastian". E pra completar o ano, depois da turnê e do EP, o baixista Janne Kivilahti deixou a banda, cedendo seu lugar para Marko Paasikoski, o mesmo que anos antes tinha fundado a banda junto com Jani e Tommy, mas que agora em vez de guitarra estava tocando baixo.
2001 foi o ano escolhido para o lançamento do segundo EP e do segundo álbum da banda. Orientation é o segundo EP do Sonata Arctica e marca a estréia de Marko Paasikoski na banda. O EP apresenta a faixa "Black Sheep", uma versão acústica de "Mary-lou", covers de Iron Maiden e Bette Midler, o vídeo de "Wolf And Raven" e uma entrevista.
Já Silence, é o segundo álbum da banda. O disco é um pouco mais pesado e obscuro que seu antecessor.
Depois do lançamento de Silence, o Sonata Arctica começou uma longa turnê com o Gamma Ray e excursionou pela Europa e pelo Japão, onde gravou o live Songs of Silence, lançado em 2002, e naquele mesmo ano, a banda veio pela primeira vez a América do Sul, passando pelo Chile e pelo Brasil.
Depois do fim da turnê e do lançamento do álbum ao vivo, o grupo retornou ao estúdio, mas, no final de 2002, por motivos pessoais, o tecladista Mikko Härkin deixou a banda.
Em 2003, o terceiro álbum da banda foi lançado. Winterheart's Guild foi gravado com a ajuda de Jens Johasson, tecladista da banda Stratovarius, que dividiu os teclados com Tony Kakko. Enquanto Tony fazia as bases, Jens solava.
Depois da saída de Mikko, a banda estava a procura de um novo tecladista. Fizeram várias audições com vários músicos, e por fim sobraram apenas dois, que tinham o mesmo nível. Como não sabiam qual escolher, decidiram que o novo tecladista ia ser escolhido por sua personalidade, então resolveram sair uma noite para beber com cada um deles, no final Henrik Klingenberg, ou simplesmente "Henkka" foi escolhido, e continua na banda até hoje. No mesmo ano a banda lançou seu terceiro EP, o Takatalvi, que contém covers do Metallica, Scorpions e Helloween, duas novas músicas e novamente conta com "Shy" e a versão original de "San Sebastian".
Em 2004, o Sonata Arctica abriu os shows do Iron Maiden na sua turnê japonesa e depois que o contrato da banda com a Spinefarm Records acabou, eles assinaram com a Nuclear Blast que já começou lançando o quarto EP da banda, o Don't Say a Word, lançado em agosto. A estréia de Henkka na banda foi uma prévia do próximo álbum, o Reckoning Night. Duas das 4 músicas do EP estão contidas no novo álbum que foi lançado em outubro do mesmo ano. A banda faria a turnê de divulgação de seu álbum, mas foi convidada pelo Nightwish para os acompanhar em sua turnê britânica, onde a banda fazia shows para em média 10.000 pessoas.
No começo de 2005, Nightwish convidou a banda para abrir os concertos da turnê americana. Essa turnê foi cancelada, mas o membros do Sonata optaram por fazer uma pequena turnê com concertos nos EUA e Canadá. Ainda em 2005, o grupo lançou sua primeira coletânea, intitulada The End of This Chapter, que reúne sucessos de todos os CDs do grupo, incluindo também faixas bônus com versões acústicas. Chega o ano de 2006, e o Sonata Arctica lança o seu segundo álbum ao vivo, o For the Sake of Revenge, que tinha sido gravado em 2005, na casa de shows Shibuya AX, em Tóquio.
No final de 2006 o grupo lança sua segunda coletânea, The Collection, que também apresenta faixas de todos os discos e novas versões.
Em 2007 é lançado o álbum Unia. Em agosto do mesmo ano, o guitarrista Jani Liimatainen anunciava sua saída da banda, sendo substituído por Elias Viljanen.
No ano de 2008, a banda lança as versões remasterizadas dos clássicos Ecliptica e Silence, e toca pela segunda vez no Brasil, fazendo shows em Curitiba e em São Paulo. Em 2009 sai o The Days of Grays, mais recente álbum de inéditas do grupo.

Apocalípticos e integrados - Umberto Eco

Em “Apocalípticos e Integrados”, o autor do livro Umberto Eco propunha, em seu prefácio, a divisão nas categorias que davam título à obra relativamente às reações face à cultura de massa e a indústria cultural. De um lado, os que consideravam que a massificação da produção e consumo constituíam a perda da essência da criação artística, da aura e, do outro, os que acreditavam estar-se perante enormes avanços civilizacionais, de uma efetiva e criadora democratização da cultura.
Apocalípticos e integrados são dois termos de definição "genérica" e "polêmica", como bem definiu o autor. As duas palavras "fetiches", nomeadas pelo autor, servem para designar as correntes teóricas: os Críticos de Frankfurt e os funcionalistas. Fetiches porque, segundo Eco, "bloqueiam o discurso", pois em alguns casos incorrem em discussões polêmicas e evasivas. Para ele, os teóricos das duas correntes se diferenciam pela contestação e o questionamento. "O apocalipse é uma obsessão do dissenter, a integração é a realidade concreta dos que não dissentem".
O apocalíptico, seguindo o pensamento de Eco, sobrevive de confeccionar teorias sobre a decadência da sociedade em função da indústria cultural e da cultura de massa. No entanto, esses mesmos teóricos críticos utilizam para difundir suas idéias os próprios canais e meios alienadores da sociedade.
"No fundo, o apocalíptico consola o leitor porque lhe permite entrever, sob o derrocar da catástrofe, a existência de uma comunidade de 'super-homens', capazes de se elevarem, nem que seja apenas através da recusa, acima da banalidade média", acrescenta Eco.
Contudo, Eco considera muito importante a crítica dos teóricos de Frankfurt aos funcionalistas, sobre o aspecto de que estes só vêem a cultura de massa e a indústria cultural de forma positiva, para assim se "embebedarem" no lucro da produção contínua da sociedade.
Os integrados, em analogia metafórica aos funcionalistas, "raramente teorizam e assim, mais facilmente, operam, produzem, emitem as suas mensagens cotidianamente a todos os níveis", diz Eco. Ou seja, de acordo com as concepções teóricas de Eco podemos deduzir que os funcionalistas não estão preocupados com a crítica das ações, mas sim com a praticidade e a funcionalidade do sistema social.
Na verdade, a grande preocupação do funcionalista é que a engrenagem social movida por cada indivíduo e as instituições sociais esteja produzindo constantemente sem erros e falhas. Porém, existe aí uma dose exacerbada de positivismo dos funcionalistas, pois mesmo criticando a própria crítica dos Críticos de Frankfurt, Eco vê a pertinência da contestação dos estudiosos alemães no aspecto de que os funcionalistas pretendem emergir a sociedade na alienação para a condução manipulada de suas funções.
Segundo escreveu Eco, "para o integrado, não existe o problema de essa cultura (popular) sair de baixo ou vir confeccionada de cima para consumidores indefesos", pois a sua pretensão é conduzir a sociedade para à massificação e conseqüentemente tirar proveito com o lucro dessa alienação.
Quarenta anos decorridos, o texto de Eco regressa à memória em face de duas notícias de ontem: por um lado, a quebra brutal das vendas de CD e DVD musicais em benefício dos downloads da internet, por outro, uma crescente diminuição da leitura de jornais nas camadas mais jovens, igualmente em benefício do recurso à rede.
A primeira coisa a sublinhar é que nenhuma das situações parece refletir uma diminuição de interesse pelos conteúdos, seja a música, seja a informação. No tocante à primeira é mesmo de admitir que esta mudança determine um aumento de consumo, sendo previsível que idêntico percurso seja seguido na segunda. Contudo, é inquestionável que a diferença de suportes determina inevitavelmente diferenças no que é transmitido e consumido.
O download tende a determinar um efetivo empobrecimento do fenômeno musical, reduzido a si próprio, quase sempre sem qualquer informação complementar associada. Nomeadamente no caso do CD, a capa e as informações nela contidas têm um evidente papel na fruição musical e, sobretudo, na criação de uma real cultura e gosto de audição.
A generalização do consumo musical nas sociedades contemporâneas é indissociável da aquisição de elementos informativos sobre a música, os seus criadores e executantes, o enquadramento histórico, estilístico e estético das obras fornecido, em maior ou menor grau, pelos textos e imagens da literatura que acompanha a edição discográfica.

“Os Benefícios da Cultura de Massa”

Perspectiva integradora da Cultura de Massa
A cultura de massa representa a maior abrangência de pessoas envolvidas. Nesse sentido, é a forma de cultura absolutamente predominante em que jornais, revistas, rádio, cinema, tv, etc., polarizam a atenção das grandes massas, ocupando, vorazmente, todos os espaços que a informação elitizada, ou as manifestações populares poderiam pretender. Mas, exatamente por esse caráter, a cultura de massa constitui-se num enorme desafio para todos, à medida que se caracteriza por inúmeras propriedades que contrastam com a idéia de baixo custo e alto benefício na cultura.
Nas décadas de 1920 e 1930 começaram os estudos e a avaliação da cultura popular. Os fenômenos marcantes foram o advento do cinema, do rádio, a produção e o consumo em massa, a ascensão do fascismo e o amadurecimento das democracias liberais em alguns países. O fato de a cultura tornar-se reproduzida infinitamente, graças aos desenvolvimentos tecnológicos, que gradativamente trouxe benefícios consideráveis na sociedade. Todos podem ter acesso a essa cultura democrática, antes vista como cultura “elitista”, de poucos.
Por outro lado, os pensadores da cultura de massa não consideram o cinema como arte, pois no seu processo de elaboração e exibição, o filme não possui a "aura" de uma obra de arte autêntica. Mas o cinema reconfigura uma nova visão de mundo perante a sociedade, que podem cultuar e ter a sensação diante da inovação do cinema, obviamente feito pra todos.
A mídia encoraja a uma visão acrítica e passiva do mundo, porque ao nível de conteúdo, dão grande informação sobre o presente, "entorpecendo" qualquer consciência histórica. Ela tende a provocar emoções em vez de a representarem; em vez de sugerirem uma emoção entregam-na já confeccionada. Mas a grande acumulação de informação não resulta em apatismo, mas sim em formação, porque a variedade de informação sensibiliza o homem perante o mundo.
O erro dos apocalípticos-aristocratas é o de pensarem que a cultura de massas seja radicalmente má precisamente porque é um produto industrial, e que hoje possa acontecer uma cultura que se subtraia ao condicionalismo industrial
A indústria cultural tende a desenvolver uma oferta de produtos para públicos diferenciados, logo, a disputa pelos públicos consumidores pode abrir lugar à inovação. Da mesma forma, a natureza diferenciada das indústrias culturais constitui um fator de relativização dos efeitos massificadores que lhes podem ser imputados.
Outro dilema importante, também referido é o dos interesses culturais versus interesses econômicos. A inovação e a criação original é quase sempre uma ameaça financeira a evitar - caso dos produtores independentes e suas dificuldades financeiras. Por outro lado, há penetração do capital na produção, circulação e consumo cultural. Este processo organiza-se segundo um jogo com duas lógicas contrárias: reprodutibilidade capitalista e raridade da obra. O trabalho cultural ao ser inserido no processo da Indústria Cultural transforma-se em trabalho coletivo. Por isso, continua a ser valorizado segundo o ideal do criador e princípio da raridade.
Na perspectiva dos Integrados, estes defendem que estamos a viver, com a cultura de massas, uma época de alargamento da área cultural - de democratização cultural. A TV, o jornal, a rádio, o cinema, a banda desenhada, são meios de comunicação que colocam os bens culturais à disposição de todos.
Estamos vivendo na era da Informação, em um mundo onde aprendemos, gradativamente, a encurtar as distâncias e a redimensionar o tempo. O cotidiano das pessoas está, continuamente, sendo transformado com a incorporação de produtos que permitem a comunicação com qualquer parte do planeta.
Através da televisão as pessoas recebem as notícias, em tempo real, do que está acontecendo ao redor do globo terrestre; pelo telefone, principalmente, e pela internet, são enviadas mensagens, possibilitando a interação com quem está do outro lado da linha. E essas experiências de "viagens sem sair de casa", vão abrindo os horizontes e criando intercâmbios e trocas que beneficiam o modo de vida das pessoas.
Hoje, os acontecimentos locais sofrem a influência de algo vivenciado por povos do outro lado do mundo. Através desses estímulos, a viagem televisiva vai tomando forma por meio dos devaneios que fazem crescer a expectativa quanto à realização do desejo de conhecer outros lugares, outras gentes, outras culturas.

“Good Copy, Bad Copy” - Pirataria: Modificando as Relações de Produção

O documentário “Good Copy, Bad Copy” - dirigido pelos dinamarqueses Andreas Johnsen, Ralf Christensen e Henrik Moltke - revela como as pessoas ao redor do mundo têm se colocado diante da questão direitos autorais, através do desrespeito deliberado das leis desses direitos e da formação de grupos e até partidos políticos que requerem mudanças nessas leis. Para a maior parte delas “as leis atuais estão inibindo o fluxo de criatividade” e o “Copyright é uma forma de prevenir que a sociedade se torne produtora de cultura”.
Transformar um tempo em que as possibilidades artísticas estão esgotadas requer mais do que uma revolução criativa. Uma vez que a replicação e a reapropriação de informação alheia fazem parte dessa revolução, na forma de sampling, mashups e P2P, a transformação exige também o ingresso nas frentes de batalha pela cultura livre e pela partilha de conteúdos.
“Good Copy, Bad Copy” é debate sobre direitos autorais e cultura. O filme retrata a atualidade do tema e as controvérsias geradas pelas novas tecnologias. Um dos focos é a não compatibilidade dos formatos considerados padrão e o perfil dos consumidores de cultura nos dias atuais. Foi realizado na Dinamarca e exibido na emissora local DR2.
A Indústria do Entretenimento ainda não sabe como lidar com a nova cultura de reprodução. Ou não quer. Como discutido em sala de aula, o impacto do atual modo de produção artística para quem já tem um modelo constituído no mercado é muito grande e ao longo do processo da democratização de informação, novos atores serão incluídos e outros excluídos. A opção tomada pela indústria para manter sua posição no mercado é a de pressionar através das ferramentas disponíveis no meio jurídico. E na medida em que a indústria sente que não existe alternativa que não seja se adaptar, ela continua a usar as leis para impor um novo modelo de negócios.
O filme vai questionando justamente as principais frentes de batalha pela cultura livre e a partilha de conteúdos como Estados Unidos, Suécia e Brasil. Entre os entrevistados destacam-se os mashupers Girl Talk e Danger Mouse, John Buckman da netlabel comercial Magnatune, Anakata e Tiamo do Pirate Bay, Lawrence Lessig e Siva Vaidhyanathan.
Numa perspectiva mais sociológica clássica, filmes como “Good Copy, Bad Copy” não seriam exibidos dentro dessa temática. O conceito de revolução convencional fala de transformações nas estruturas de poder de uma sociedade.
Durante muito tempo a “revolução” designava os movimentos bruscos dos astros, que passeavam pela galáxia indiscriminadamente provocando desespero nos primeiros pensadores que tentavam entender o seu funcionamento. Logo depois foram orientados sobre a mudança no conceito de revolução ocorrida após a queda da bastilha em 1789. De uma explicação da mudança dos astros para uma mudança brusca nas estruturas de poder de uma sociedade, uma revolta, uma reorganização da vida orientada por ideais iluministas.
Um olhar mais atento perceberá a revolução apresentada no documentário de Andreas Johnsen, Ralf Christensen e Henrik Moltke. Uma revolução que mexe sim com as estruturas de poder. Do poder de criar e veicular a criação livre dos autoritarismos presentes nas leis de direitos autorais.
O que "todo mundo" pensa hoje sobre as possibilidades de construção colaborativa do conhecimento, da arte, das tecnologias? No decorrer do documentário, muitas pessoas apresentam seus pontos de vista sobre criatividade, propriedade intelectual, compartilhamento pela internet etc. Aparecem tanto os ciberativistas quanto os defensores da indústria cultural que alega ter prejuízos com a nova indústria cultural. Termos como sampler, download, upload, bit torrent, creative commons ('criei tive como', em português do Brasil!), copyleft (em oposição direta ao copyright), entre outros, são recorrentes em todo o documentário. Tais termos indicam que há algo acontecendo de novo no mundo da criação artística. Brotam reclamações, processos, cancelamento de sítios eletrônicos, fechamento de provedores de internet, por todos os lados. É certo que isso está incomodando.
Chamam de “pirataria”. Um dos sujeitos que aparece no filme, representante de Hollywood, chega a definir o conceito: segundo ele, “pirataria é a apropriação inautorizada e sem compensação de propriedade intelectual”. O DJ Girl Talk defende-se com uma pergunta provocativa: “porque perseguir alguém que claramente só está tentando fazer música?” O fio condutor do filme é uma discussão sobre a construção colaborativa do conhecimento, o que certamente incomoda os interesses de quem ganha com a privatização dos saberes.
O que entendemos por criatividade? A constituição dos EUA fala em proteger os direitos dos criadores, mas o que isso significa? Até que ponto a justiça, com sua emblemática imagem de olhos vendados, alcança os seus propósitos de “proteger os criadores”? Os argumentos de alguns entrevistados caminham no esclarecimento dessas questões. Dr. Lawrence Ferrara, por exemplo, sobre as noções de propriedade intelectual e direitos autorais, pergunta: “quem é o dono? E do quê? Qual a função do direito autoral?” Representantes da indústria alegam que “as coisas ficaram fora do controle”. Controle de quê (quem)?
Por outro lado, em outubro de 2007 a banda inglesa Radiohead anunciou o lançamento do seu sétimo álbum, intitulado “In Rainbows”, e o disponibilizou para venda apenas pela internet. Sem contrato com a gravadora EMI e mantendo um estúdio próprio, a banda decidiu disponibilizar o disco em mp3 para download pelo preço de zero a 100 libras, de acordo com o que o cliente escolhesse pagar.
Apesar dos representantes da banda não terem disponibilizado nenhum número com relação às vendas, o Forbes.com revelou que já no primeiro dia do lançamento do disco, apesar de ser grátis no site oficial, 240 mil pessoas fizeram o download através do BitTorrent.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Reforce sua identidade e cresça como um "verdadeiro" profissional

A falta de emprego ou a simples possibilidade de perdê-lo assusta muitos hoje em dia. Mas algumas vezes ficar sem trabalho pode ser um divisor de águas e representar um bom momento para repensar e dar um novo foco à carreira profissional. Em momentos de crise, como dizia Einstein, "só a imaginação é mais importante que o conhecimento".
"Quando buscamos um emprego, somos mais do que nunca uma combinação única de nossos conhecimentos e habilidades, de nossa personalidade, experiência, valores, e como não, de nossa imagem", o que chamamos também de "anteprojeto de marca pessoal". É fundamental tirar proveito do real potencial profissional para projetar a marca pessoal, fugindo do básico. "É como uma dieta. Você notará os resultados se seguir a bem-sucedida receita dos três 'Pés': paciência, prudência e perseverança".
Independentemente da profissão, é importante se dar valor. Para isso, basta identificar seu espaço e encontrar um estilo próprio. A chave passa tanto por uma boa estratégia de comunicação como por um relato atraente que conecte o público alvo.
Especialistas em comunicação e marketing destacam a relevância da diferenciação, independência, reconhecimento, reputação e credibilidade do profissional para que se chegue ao real valor de seu trabalho.
Diante disso se estabelece cinco pontos de onde partir para criar uma marca pessoal.
• Objetivos - "Não há vento propício se não se sabe para onde ir. Quem sou? Como sou? O que quero conseguir? A quem quero me dirigir?. Essas são as chaves".
• Diferenciação - "Para ser, é preciso ser diferente. O que fazer? Em que campo me destaco, sou bom ou me motivo?".
• Estratégia - "Quais passos darei para conseguir meus objetivos? Que imagem vou projetar de mim mesmo?".
• Convicção - "É preciso se dar valor. A convicção, na profissão e no valor profissional, é percebida. Ela rende, é algo que atrai, que gera seguidores. Só é necessário encontrá-la e saber projetá-la".
• Paciência - "A maioria dos que fracassam tentou antecipar a hora do sucesso".
Por trás de uma marca pessoal deve haver uma história coerente, viva, estruturada, crível, sedutora e autêntica construída com base em valores, idéias, as palavras, imagens e projetos que se deseja transmitir. "O relato bem narrado simplifica, interpreta, clarifica, comunica, integra, motiva, persuade, mobiliza, emociona, humaniza um serviço, um produto e quem o vende".
A ajuda da internet e de redes sociais para expandir a marca pessoal são inventadas, mas existem riscos. "O maior é crer que estar nelas é o fim, e não o meio para chegar, conectar e interagir com outras pessoas. Conhecer a rede e a forma de comunicar-se nela é chave para ficar conhecido, aproximar-se da interação com o público, debater e receber propostas, criar opinião e, definitivamente, se referência no âmbito profissional".
No que se refere ao custo que uma marca pessoal tem que criar, lembrando que "não é questão de dinheiro, mas de tempo, dedicação e de querer crescer e melhorar como profissional".
Criar uma marca que forneça valor e tenha boa reputação não é fácil. Nosso nome, nossa reputação será algo que nos acompanhará por toda a vida.
"Poderá mudar, sem dúvida, mas nunca poderemos descuidar de áreas mais humanas como a forma de atuar, a maneira de nos relacionar, a honestidade e nossa credibilidade. É ela a que somará ou diminuirá qualidades ao prestígio como profissionais".

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

“O Pianista” – Roman Polanski

O filme “O Pianista” de Roman Polanski, recebeu várias críticas no Brasil, tanto as construtivas quanto as destrutivas (coisa que é comum), desde os elogios mais rasgados até aos defeitos “mortais” foram expostos a todos. Confesso que quando fui assistir ainda estava confuso com tudo que disseram sobre o filme e não tinha idéia do que esperar daquelas próximas duas horas.
Ao terminar o filme fiquei extasiado com tudo aquilo que vi, minha cabeça foi a “mil”, pensei comigo: não sei se essa foi a melhor hora de assistir este filme! Pois em minha mente estava muito fresca a idéia de guerra, quer dizer, está muito fresca! E tudo isso sem contar com a guerra civil que estamos enfrentando no Brasil, é muito perturbador isso tudo, você liga a TV e pode escolher qual canal você quer acompanhar a guerra, talvez aquele “mais legal” ou aquele outro “mais ousado” e o que é pior, tudo ao vivo, mesmo assim prefiro o cinema que como documentário nos mostra tudo com uma pequena diferença, de um jeito mais “lírico”, se é que pode existir isso.
O filme de Roman Polanski é ótimo, excelente. A maior injustiça foi feita este ano no Oscar, ter dado o prêmio de melhor filme para “Chicago” (não estou tirando o valor do filme), mas o melhor mesmo foi “O Pianista”. Cada dia que passa me convenço mais e mais que o que rege tudo no mundo é a política, “a habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados a quem lhes é favorável”. Seja na guerra, na paz, no dinheiro e agora até no entretenimento... como é possível explicar O Pianista não ter ganho o Oscar de melhor filme se teve seis indicações e ganhou três das mais importantes (diretor, ator e roteiro adaptado), ganhou o Palma de Ouro em Cannes (apesar de alguns críticos dizerem que foi pelo conjunto da obra de Polanski), ganhou sete Césares e o BFTA.
Enquanto Chicago que também com louvor ganhou três Globo de Ouro (melhor filme de comédia ou musical, melhor atriz para Zellweger e melhor ator para Gere) e teve treze indicações ao Oscar ganhando seis, sendo quatro de prêmios técnicos e ainda assim levou o Oscar de melhor filme. É claro, seria muita “burrice” minha pensar que a Academia daria o Oscar mais esperado da noite a um filme de guerra em plena guerra, seria o “ó” da hipocrisia? Ou será que por causa da Miramax? Política? Para não se render totalmente à Polanski? Ou será que Chicago mesmo não ganhando nenhum dos prêmios importantes e nem sequer indicando seu melhor ator é realmente melhor que O Pianista?? Afinal, a Academia deu o prêmio a Michel Moore (Jogando Boliche por Columbine – Documentário) e ele é anti Bush, e seu documentário faz críticas ao governo... mas a resposta para todos estes pontos de interrogações é simples, se pensarmos bem, mais uma vez a Academia ficou em cima do muro, literalmente!!! Enfim, deixemos a política de lado e vamos falar sobre o filme.
O filme é lindo (no sentido cinematográfico, claro) muito bem conduzido, mostrando os dias de um pianista Polonês tentando sobreviver diante de todos os absurdos da guerra. O filme mostra muito bem o gueto de Varsóvia, a humilhação, a fome, a sujeira e é claro, a morte de um modo especial, com uma visão muito verdadeira (mortes mostradas em primeiro plano), faz com que a gente saia do cinema com a certeza que tudo aquilo foi real, que pessoas passaram por aquilo e que não é fantasia muito menos um musical, apesar da boa música. Polanski foi mais que merecedor deste prêmio.
Só uma pessoa que passou por tudo aquilo poderia mostrar com tanta verossimilhança. Confesso que por várias vezes fiquei com aquele famoso nó na garganta, fechei os olhos para determinadas coisas e senti vergonha de fazer parte desta humanidade tão violenta e hipócrita. Sentimento que recentemente senti assistindo Cidade de Deus e a última vez que vi algo muito bem feito sobre a temática foi através do ícone A Lista de Schindler (Steven Spielberg). Em relação às atuações elas foram ótimas, Adrien Brody dispensa comentários, só vendo mesmo.
Thomas Kretschmann, Emilia Fox, Ed Stoppard, Frank Finlay, Julia Rayner, Jessica Kate Meyer ajudam e muito o filme, mas o que eu quero ressaltar são as atuações dos figurantes, daqueles cujo os papeis são secundários, cujo papeis teoricamente não teria muita importância e mais uma vez Polanski surpreendeu.
É de tirar o chapéu, incrível como tudo parece ser mais real do que já é, a cena em que alguns judeus são obrigados a dançar é maravilhosa, nitidamente você nota o medo, raiva e angustia em semblantes totalmente desconhecidos da massa. E por falar em boas cenas, quero destacar uma que ficou marcada em minha mente, é a em que Wladyslaw toca piano para o Alemão que o encontra escondido, é simplesmente maravilhosa, tudo destruído pelos alemães, o quarto a cidade e o próprio pianista que esta em ruínas, o alemão manda ele tocar uma música e a gente se pergunta será que ele vai conseguir? E ele começa a tocar piano meio tímido “fora de forma” e aos poucos começa da dedilhar como se nada tivesse acontecido ou acontecendo, uma fotografia maravilhosa e uma luz perfeita.
Como eu já disse no começo, é um dos melhores filmes do gênero que já assisti e quem melhor escreveu sobre isso foi o crítico Rodrigo Fonseca do JB que disse...” além de uma poética perturbadora que tenta buscar o que há de belo no feio e o que pode haver de esperançoso num cenário de dor... Polanski e a poesia do absurdo.” Vale muito a pena ver, e tenho certeza que vocês vão concordar comigo em pelo menos uma coisa, O Pianista foi o melhor filme de 2002.

“Chinatown” - Roman Polanski

Falar de Chinatown apenas como uma mera homenagem ao film noir, e pior, assistí-lo desta forma, significa limitar profundamente o potencial de uma das mais extraordinárias experiências cinematográficas às quais um espectador no limiar quase inocente de sua passividade pode ser submetido. E se todo noir é meio como um parágrafo a mais no extenso tratado da dubiedade humana, o filme do polaco é uma espécie de resumo da coisa toda. O filme é dirigido por Roman Polanski e foi lançado em1974.
O roteiro de Robert Towne é uma complexa e incrivelmente densa aula de como, afinal, se escreve pra cinema. O tempo todo brincando com o espectador, o tempo todo engendrando detalhes e promovendo um número de reviravoltas que quase não cabe em 130 minutos. E há uma série de ecos internos, um diálogo do filme consigo mesmo que por sinal é um simulacro da própria atividade de J.J. Gittes, cujo fundamento ao qual quase sempre o detetive é fadado é percorrer toda a amplitude de um caso para reencontrar a solução, sob outra perspectiva, no início do círculo.
O modo como a buzina do carro de Evelyn é usada da primeira vez para causar um efeito tão forte no final do filme é coisa pra ser documentada e catalogada como artifício de linguagem. Chinatown ainda oferece uma galeria de personagens fantásticos.
A cena do primeiro encontro de Gittes e Evelyn é antológica e praticamente resume o tom que permeia a relação dos dois por quase todo filme, com Evelyn escondendo-se sob uma parede de gelo enquanto Gittes tenta sem sucesso disfarçar sua vulgaridade natural (coloque-se a ênfase em qualquer das duas palavras) com um terno riscado, um cigarro e um vocabulário muito frágil e cuidadoso.
Lou Escobar é o referencial determinante para o ar de fracasso que persegue Gittes de antes, durante, a depois do tempo presente do filme. E por uma simples diferença de adaptação, tanto numa Chinatown quanto (daí um pessimismo constante por toda a obra) em qualquer outro lugar onde deve-se (ao que parece, sempre) “fazer o menos possível”. E de Noah Cross resta John Huston (um dos diretores angulares na construção do film noir) com um desempenho inacreditável na caracterização definitiva do velho rico e asqueroso, reduzindo a nada a distância entre o sádico e o divertido.
Talvez o que mais aproxime Chinatown do noir (ou melhor, o que o torna um representante genuíno do ‘gênero’), acima dos arquétipos como detetives, crimes intrincados, femme fatales… é um sopro intenso de amargura como matéria-base. Os acontecimentos sempre terminam corroendo e derrubando seus personagens (e No Silêncio da Noite é o filme essencial neste sentido). Inclusive é difícil acreditar que Robert Towne imaginasse um final diferente, e que Roman Polanski teve que conquistar aquela que é a cena-chave do filme à força. E é o final mais trágico possível, onde todos os maiores medos dos protagonistas foram preenchidos com uma ênfase de crueldade.
Chinatown é daqueles filmes que merecem mesmo um estudo minucioso. Muito do que construiu o cinema neste mais de um século está ou explícito ou latente nesta que é uma das maiores obras-primas do cinema americano. Um noir épico.

“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” - Otto

“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é o quarto álbum de Otto, foi lançado em 2009. Desde que saiu do Mundo Livre S/A, Otto passeou entre elogios e críticas negativas a sua proposta musical na mesma proporção. Sempre achei interessante o seu trabalho, apesar de considerar que em alguns momentos há certos deslizes, mas nada que comprometa muito. Sem lançar nenhum disco de inéditas desde “Sem Gravidade” de 2003, que já mostrava diferenças em relação aos álbuns anteriores, o pernambucano volta à tona.
Inicialmente foi somente lançado no exterior, angariou bons comentários de jornais como o Boston Globe e o New York Times. O nome do disco extraído da primeira frase do clássico de Franz Kafka, “A Metamorfose”, representa muito do que se ouve nos 40 minutos, pois vemos uma transformação da sua música, ainda que esta seja sutil e não tão drástica como a imaginada por Kafka.
Com um certo desgosto por gravadoras, Otto resolveu construir o seu novo disco todo baseado na amizade. A banda é composta por Fernando Catatau do Cidadão Instigado na guitarra, além de Dengue e Pupillo da Nação Zumbi respectivamente no baixo e bateria. Pupillo também ajudou na produção e a gravação foi feita no estúdio Totem de propriedade de Fernando Catatau e Kalil Aiala. A capa ficou por conta do artista pernambucano Tunga.
Nas 10 faixas temos a participação especial de Céu, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado) e da mexicana vencedora do Grammy, Julieta Venegas. “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é um disco mais orgânico, com maior influência do rock e da mpb, mais melódico, mas sem deixar de lado a eletrônica e a mistura de ritmos que Otto sempre promoveu. Sem dúvida é o trabalho mais acessível da discografia do artista até aqui.
Todas as faixas descem redondas, sendo que a parceria com Céu em “O Leite”, a visceral “Crua”, a poderosa “6 Minutos” com uma interpretação forte de Otto e de Fernando Catatau na guitarra, além da releitura de “Naquela Mesa” do repertório de Nelson Gonçalves, merecem um maior destaque. No disco, Otto acerta em cheio e com simplicidade e na base da amizade cria o seu melhor registro.
O álbum traz 10 faixas e pode se dizer que este é um disco de amor. Não de amor romântico e meloso, mas sim de um amor mais amplo, um amor fraterno e de devoção. O lado fraterno vem principalmente na brega e bela “Naquela Mesa”, regravação de Sérgio Bittencourt que narra as lembranças do filho sobre um pai ausente. O órgão dá um clima nostálgico e melancólico e o estilo de cantar de Otto traz à memória cantores como Agepê, Luiz Ayrão e Benito di Paula. Brega, mas bacana.
A devoção está presente na canção “Janaina”, homenagem à Iemanjá. Musicalmente esta pode ser uma reminiscência do tal manguebeat. Os tais batuques do estilo em que Otto começou sua carreira pouco aparecem neste trabalho. Felizmente. Traz também uma junção interessante de orquestra e instrumentos de percussão. Muito legal e bem interessante.

“Império dos Sonhos” - David Lynch

“Império dos Sonhos, do diretor David Lynch, é um filme suspenso no ar, pra ser assistido com a cabeça partida ao meio, distante de tudo já visto, de tudo que o cinema ensinou quanto à sua formulação. É preciso vê-lo com se fosse o primeiro filme do mundo. Ele nos mostra uma forma significativa de limitar profundamente o potencial de uma das mais extraordinárias experiências cinematográficas às quais o espectador pode ser submetido.
Não estou certo, mas, mesmo que soe um impropério desmedido se tratando de David Lynch, não quero acreditar que ele ainda possa ir além de Inland Empire. Se for, uma fenda vai se abrir no céu e tragar o universo. Nada nunca foi tão extremo, até mesmo para um cineasta extremo, como Lynch. Por mais que Eraserhead e Cidade dos Sonhos sejam pesadelos em película, ainda mantém um fio de conexão com o mundo fora do sonho, no qual o espectador pode se agarrar com todas as forças para não ser engolido pelo redemoinho mental do diretor. Império dos Sonhos simplesmente desrespeita qualquer comparação. É aterrorizante, destrutivo, a mais profunda das dimensões paralelas, onde não há a menor possibilidade de distinção entre um plano e outro; se o mental, o ficcional ou o real (imaginando que este chegue em algum momento a existir).
A mente de Nikki é despedaçada e liquefeita, dando partida a algo novo, que não é loucura ou sanidade, ódio ou paixão, alegria ou terror, mas tudo no mesmo espaço ao mesmo tempo discorrendo na mais absoluta liberdade. Não se encaixa Império dos Sonhos em termos calcados numa base palpável.
Pra mim, Império dos Sonhos foi o tempo todo (e em todos os tempos) metacinema, incluindo talvez muito (ou quase tudo) do próprio David Lynch enquanto autor. Nikki é digerida por seu trabalho, repartindo-se numa multiplicidade de cenas e personagens, implodindo-se numa via-láctea de faces, emoções e situações. Se ela começa como pessoa, única, bastando-se em si, é logo consumida pela Hollywood, pelo próprio cinema, passando a viver todos os tempos distintos entre todos os filmes contidos dentro de Império dos Sonhos, de uma vez só, como quando conversa com todas as prostitutas dentro de um quarto fechado.
Não sei se é o melhor do Lynch porque o filme simplesmente não permite alinhamento a outros títulos, é coisa de outro mundo, de outra época. Além do mais, ele está corroendo minha mente. Estou prestes a entrar em coma, estou a dois passos do autismo

“Play” - Moby

O album “Play” do Moby, lançado em 1999, criou um estilo música eletrônica para todos os públicos. Ele coincidiu com o fim de um apelo mais restrito desse gênero musical, ainda que seja injusto dizer que foi o único responsável pela disseminação da música eletrônica junto ao grande público: o sucesso deste disco se deve, em grande parte, á inclusão de elementos de blues, gospel e rock.
Apesar de músicas como "Honey" e "Bodyrock" terem se tornado clássicos das pistas - de Ibiza a São Francisco -, este não é um disco de dance, mas um álbum pop. Pois o Moby se inspira em várias fontes, construindo a irresistível música de abertura, "Honey", em torno de curtos samples da maior representante do blues da Geórgia, Bessie Jones.
Play se torna bem legal no sentido essencial da obra, pois se utilizando de elementos fora do comum ainda sim está enquadrado no contexto da musica eletrônica.
Em referência à seus anos mais underground, Moby ainda hoje é considerada um banda clássica no cenário eletrônico-pop, utiliza suas batidas frenéticas do tempo em que a gente ainda dançava jungle.
O interessante é que o álbum teve um êxito comercial esmagador, atingindo o primeiro lugar das paradas inglesas e tendo vendido mais de dois milhões de cópias.
Esse disco tem aquela chamada “pegada eletrônica”, e é tido como um dos álbuns mais marcantes da musica eletrônica. É nesse sentido que Popularescos ou não, é inegável que “Play” contribuiu para a formação da história da cena eletrônica em todo mundo.
Tudo é bem legal, eu particularmente recomendo a todos os tipos de públicos: dos críticos aos adeptos. Convoco a todos venha provar um pouco desse ambiente bastante diversificado e interessante que a música eletrônica nos proporciona, no contexto do álbum “Play”.

“Por Pouco” – Mundo Livre S/A

Mundo Livre S/A é uma banda nascida em 1984 em Recife, PE. O nome foi retirado do personagem de TV Agente 86, que fazia diversas apologias ao mundo livre. Nasceu no bairro beira-mar de Candeias, em Recife, mesmo lugar em que foi redigido o manifesto Caranguejos com Cérebro, marco do Movimento Mangue, que prega a universalização/atualização da música pernambucana. Fred Zero Quatro, vocalista do Mundo Livre S/A, foi o autor do manifesto, juntamente com Renato L. e Chico Science. O Mundo Livre foi uma das bandas fundadoras do movimento Manguebeat.
Como dizia Otto, Fred Zero Quatro é a mistura de Jorge Ben com The Clash. Difícil pensar numa combinação como essa, mas isso só se você ainda não ouviu Por Pouco. A variedade de ritmos (rock, reggae, rockabilly) e o discurso politizado do Clash estão presentes. O samba, bossa, samba rock, swing, lirismo, safadeza de Jorge Ben, também. A eles coloque-se uma pitada de Tom Zé e, pensando bem, não poderia haver melhor definição para este disco (Por Pouco 2000).
E uma palavra que une as três facetas é ironia. Tapa na cara, mas sem luva de pelica, nos melhores momentos, o disco serve de espelho da mediocridade da vida urbana brasileira do início do novo milênio, inútil, manipulada, que vem e vai no trânsito, no Jornal Nacional, no consumismo, no sonho da casa própria e na gostosa que sonhamos inutilmente um dia comer. Essa desilusão ganha um desenho extremamente sarcástico em Por Pouco, herdeira direta de Inútil, do Ultraje a Rigor, anti-hino da derrota das Diretas Já nos 80. Ela é um retrato do Brasil, o país das intenções nunca realizadas, da bola na trave, o país do futuro só que o ano 2000 chegou e a gente estava na mesma.
“Estamos quase sempre otimistas
Tudo vai dar quase certo
Pois o ano esta quase acabando
Depois de termos quase certeza
Que dento em breve teremos um quase alegre carnaval
Por pouco não trouxemos o penta
Quase acertamos na loto
Quase compramos a casa
Quase ganhamos o carro
A moça da banheira ficou quase nua
A gostosa da praia quase dá, não dá”.
Desilusão que já está presente desde a primeira música. Com jeito de manifesto, o Mistério do Samba é imperativo em sua desconstrução de tudo o que o samba não é:
“O samba não é carioca
O samba não é baiano
O samba não é do terreiro
O samba não é africano”
E por aí vai, como se dissesse, o samba é livre, “não tem mistério”, terminando na conclusão perfeita: “E como reza toda tradição, é tudo uma grande invenção”.
Nesse clima de desilusão, o disco encontra um espaço para o amor, em momentos carinhosos e safados. Que nem Mexe Mexe, composta por Jorge Ben, ele mesmo, que é Jorgebeniana até o último fio de cabelo, sem o menor pudor. Começa com uma levadinha no violão, boa de dançar, devagar, difícil não mexer pelo menos a perna embaixo da mesa. Na sequência vem o Melô das Musas, com um elogio explícito a Wânia, a mulher "com um dábliu maiúsculo, um dábliu formidável, bem maior que minha testa", gostosíssima, saindo do mar e “eu não vou sair daqui sem ver ela sair da água”.
Daí o ritmo acelera forte pra Treme-treme, versão de Shackin’ all over, que vira “se tremendo toda”, rock com clima Clashiano, nervoso. “O seu olhar me comanda e manda eu me mexer. E a tremedeira é rebatida pra você”. É nervosa também na ansiedade dele pela conquista e daí a tremedeira passa pra ela, vira um orgasmo.
E depois da transa, do sexo forte, vem aquela relaxada na cama. Meu Esquema, uma bossa swingada, sopros suaves, a declaração de amor mais masculina que conheço: “ela é meu treino de futebol, ela é meu domingão de sol, concerto de rock and roll, torcida gritando gol, playcenter, pista alucinada, inferninho, esporte radical, poderosa viciante, mas não faz mal, o que meu médico receitou, Rivaldo maravilha mandando um gol, minha chapação”. Lendo assim, parece ridiculamente machista, mas Fred Zero Quatro dá a ela uma convicção que muda completamente a maneira como a gente entende cada palavra.
Mas esse é um lado do disco. O outro é o do discurso politizado que apesar de às vezes beirar o panfleto, tem também sacadas excelentes. É metralhadora giratória, e sobra pra todo lado: a violência urbana (“Algo me alvejou, ai, olha o sangueiro irmão, segura que eu vou cair”, no samba Tomzeniano Super Homem Plus); a sociedade de consumo e o mercado (“O mercado vive em guerra... Não há lugar pra escrúpulos... Cedo ou tarde você vai se entregar ao mundo livre, não adianta, não há como escapar”, de Concorra a um Carro); os Estados Unidos em Lourinha Americana; as mega corporações, a Nike, o Congresso, os governos, os partidos e políticos em Batedores.
Dentro desta perspectiva, Por Pouco é o Cabeça Dinossauro dos anos 90. Retratos do país, cada um em seu tempo mostra quem éramos. O Cabeça, mais explícito em sua crítica às instituições, era raivosamente adolescente, portanto mais inocente, como a democracia, que engatinhava. Por Pouco faz o mesmo, mas com um cinismo de quem está ficando adulto, perdendo as ilusões. Pois é claro que nós crescemos, superamos a ressaca do impeachment, ganhamos a guerra contra a inflação, saímos da faculdade e agora precisamos conseguir um emprego, comprar uma casa e constituir família (lembram do início de Trainspotting?). Se sobrar tempo, quem sabe você não continua indo em busca de seus sonhos? Só que a essa altura você já começou a perceber que aquele futuro brilhante que sua mãe e sua avó tinham certeza que te esperava talvez esteja um pouco mais distante do que você pensava ("Droga, foi por pouco!").
Não é fácil olhar pro nosso lado ruim. O Mundo Livre S/A teve a coragem de fazer isso, olhou o país, mastigou, regurgitou e vomitou Por Pouco em nossa cara. A gente pode até não gostar, mas vai ser difícil não se reconhecer nele. E ainda mais interessante é que apesar de toda a desilusão, o disco termina otimista, com as versões para Minha Galera, de Manu Chao, e de Garota de Ipanema, que exaltam coisas simples, como os amigos, a namorada, a praia. E nisso ele não consegue fugir de ser, ele mesmo, um espelho da contradição brasileira, sempre lidando com problemas que não consegue resolver, sonhando com coisas que não consegue ter, mas sempre otimista, exalando sensualidade e sempre disposto a curtir a vida.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Considerando que o conceito de marketing não se restringe ao de venda, mas está relacionado ao estabelecimento de metas e a administração das trocas simbólicas, estando envolvidos neste processo sentimentos e emoções, qual é o papel das relações públicas no marketing? "por Manoella Neves"

"por Luciano Pinto"
Em meu entender, o relações públicas está situado no contexto do marketing, na relação com o marketing social, que envolve técnicas de publicidade, mas aí não se pretende aumentar as vendas, caso contrário se trataria de questões do Marketing, que também fazem parte do campo das Relações Públicas. Com a otimização da relação de trabalho, compete aos profissionais de relações públicas exercerem a comunicação numa perspectiva diante do marketing. É necessário o estabelecimento de um plano estratégico de comunicação, utilizando os meios mais eficientes para o estabelecimento de suas metas e suas ferramentas de comunicação. É preciso entender que a comunicação completa o marketing, sendo ela o “fazer” e o marketing a “metodologia”, é nesse contexto que o RP atua. Não podemos esquecer que o RP precisa entender os elementos relacionados com a área, para executar suas ações, utilizando a administração, o planejamento estratégico e a qualificação profissional no campo do marketing.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Consultoria de Viagem a Italia: GOSTARIA DE GANHAR UM Mp4?

Consultoria de Viagem a Italia

AQUI POSSO ESCLARECER SUAS DUVIDAS ANTES DE DECIDIR IR TRABALHAR E VIVER NA ITALIA.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
GOSTARIA DE GANHAR UM Mp4?

è FACIL CONCORRER,ENVIE UMA FOTO SUA PARA O EMAIL abelgoes3@hotmail.com
DIZENDO " QUERO PARTICIPAR DO CONCURSO MINHA FOTO NO BLOG."
A FOTO MAIS VOTADA RECEBERA UM MP4 DE BRINDE.
EM BREVE FAREMOS OUTRAS PROMOçOES.
(foto meramente ilustrativa)
participem da comunidade do orkuthttp://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=24973285

um grande abraço

sábado, 10 de julho de 2010

O Sensacionalismo

Sensacionalismo é geralmente o nome dado a um tipo de postura editorial adotada regular ou esporadicamente por determinados meios de comunicação, que se caracteriza pelo exagero, pelo apelo emotivo e pelo uso de imagens fortes na cobertura de um fato jornalístico. Exagero de tal fato exibido com muitas cenas emotivas e de certa forma generalizando o tema exibido. Ultimamente usa-se esse recurso para ganhar audiência, pois choca a mente dos espectadores. Esta prática não é um fenômeno isolado, ou seja, faz parte de um processo histórico e cultural, sendo influenciado por matrizes como a pornografia, o melodrama, o folhetim, o romance gótico, a literatura de horror, a literatura fantástica e o romance policial.
A cada momento, deste final de milênio, estamos sendo bombardeados por uma série de informações jornalísticas que nos levam a repensar qual seria, de fato, o papel da imprensa moderna e, até que ponto, ela conserva seu princípio ético de divulgar temas de interesse público ou se, alternativamente, ela vem explorando assuntos interessantes para o público.
Muito tem se falado na distinção existente entre a chamada grande imprensa caracterizada como séria, formadora de opinião e a pequena imprensa, que apela para aspectos popularescos, manipulando os leitores, divulgando informações sensacionalistas. Se o aspecto crítico é característica da primeira, parece correto afirmar que a função apelativa é atributo da segunda.
Se no primeiro caso o texto deve revelar sua referencialidade, fato que lhe confere valor documental, já no segundo, o texto, muitas vezes é enfraquecido, pois a palavra passa a ser mero instrumento, enquanto fotos consideradas extravagantes falam mais alto.
Conferimos assim, à imprensa genuína, a razão precípua de informar com exatidão, formando em seu leitor, o processo gerador de conhecimento consciente. Neste sentido, estamos diante do que Roland Barthes chama de "texto fetiche", palavras que por sua elaboração textual, ganham vida e plasmam mensagens que conduzem ao texto envolvente. Ao levantarmos esta perspectiva, conferimos ao jornalista a possibilidade de engendrar matérias “atraentes” que o tornam um lapidador da palavra.
Em contrapartida, quando se trabalha exclusivamente com fatos bombásticos, o imediatismo faz-se presente e cria o que podemos chamar de jornalismo frívolo, que vive e se sustenta da desgraça e das banalidades que fazem parte do cotidiano.
O leitor é levado a vivenciar o processo catártico, no qual extravasa seu sucesso, ou sua tragédia pessoal. É como se a leitura lhe permitisse assumir um pacto romanesco, no qual ficção e realidade se mesclam, com a pluralidade do caleidoscópio. Mas surge aqui um questionamento: entre a veiculação dos dois tipos de mensagem, qual a que atinge, realmente, o leitor, não só em termos quantitativos, mas também no que se refere a formação de sua essência sensível?
Não se trata aqui de um dilema entre qualidade x quantidade, mas algo muitíssimo mais amplo que se instaura na sociedade em que vivemos e que nos configura, com nitidez fotográfica, esta mesma sociedade, porque na verdade, é um símbolo de suas necessidades explícitas e também das mais recônditas.
Para analisarmos os aspectos mencionados, partiremos de um exemplo exaustivamente explorado pela mídia sensacionalista, ou não, ocorrido na primeira semana de setembro de 1997, ou melhor, na semana em que o mundo parou.
Todos os olhos se voltaram para a tragédia ocorrida em Paris na fatídica madrugada de 31 de agosto no Túnel de l'Alma. Como uma profecia fúnebre, morria em acidente automobilístico a princesa Diana de Gales e, talvez, de todo o mundo.
“Sua morte prematura provocada, quem sabe, pelo assédio dos “paparazzi” gerou o questionamento seguinte: em que medida o interesse pela aparência divulgado pela imprensa alternativa teria, em parte, responsabilidade pela exposição cruel a que “mitos” atuais estão sujeitos”?
Não há dúvida de que a mídia conduziu Diana até sua morte. Porém, cumpre olhar o reverso da moeda, visto que existem várias versões afirmando que a própria princesa teria interesse em cunhar uma imagem de embaixatriz humanitária e "rainha dos corações", envolvendo a imprensa num jogo de sedução.
Considerações à parte, não se pode deixar de constatar que, se viva, a princesa motivava a mídia, morta, ela preencheu páginas, sem conta, nos periódicos mundiais.
No entanto, para ilustrar ainda melhor nosso questionamento inicial, outro fato, extremamente significativo, ocorreu num processo de simultaneidade ao acima descrito: a morte de madre Teresa de Calcutá.
A cobertura dada ao desaparecimento daquela que colocou toda sua vida a serviço dos empobrecidos, Prêmio Nobel da Paz em 79, não mereceu por parte da imprensa destaque comparável. Afinal, sua imagem despojada de "glamour" e voltada exclusivamente para causas humanitárias, não interessa ao leitor com a mesma intensidade... Ela não faz parte do sonho. É real, duramente real.
A linha divisória entre o interesse público e o interessante para o público é tênue e depende, em parte, do modo pelo qual é explorado sob o ponto de vista jornalístico. Neste sentido, exige grande capacidade de discernimento tanto de quem escreve, quanto de quem lê. Concluindo, a tarefa jornalística exige a conscientização da extensão das mensagens veiculadas, balizando o alcance da intervenção da imprensa na sociedade. É desafiador conceituar processos de criação, principalmente se invocamos parâmetros fixos. Exemplificando, Mathew Parris, do "Times" de Londres, afirma : "Os jornais de prestígio só esperam os tablóides darem a primeira mordida para avançar sobre a carniça ".
Portanto, um dos grandes desafios da imprensa é buscar com precisão o direito à informação, divulgando assuntos, cujo enfoque particular, sejam significativos para a formação da opinião pública.
É urgente publicar mensagens que, comprometidas com a verdade, apresentem soluções críticas e criativas para uma sociedade que, sedenta de curiosidade, possa vir a se tornar sedenta de conhecimento e mais próxima do Amor.
O trabalho desenvolvido pela polícia no caso da menina Isabella Nardoni também foi alvo de críticas ferozes e a análise psicanalítica do assunto ainda mostrou que a comoção popular é motivada, muitas vezes, pela necessidade que as pessoas têm se transformar o outro em monstro para se diferenciar daquele. O encontro apontou culpas e as falhas dos vários atores dessa relação entre mídia e processos judiciais.
Segundo Rahal, o jornalista Mario Cesar Carvalho, repórter especial da Folha de S. Paulo, "foi o maior alvo de questões e as respondeu com sinceridade e ousadia muito impressionantes, tendo feito ácidas críticas à polícia de forma geral".
Carvalho, segundo relato da jornalista Gláucia Milicio, do "Consultor Jurídico", disse que, apesar de os jornais não tomarem medidas de precaução ao noticiar o caso Isabella, e disputarem de maneira tola a informação com a TV, a comoção foi criada pela Polícia: "Parte da Polícia é corrupta e mal preparada e usou a mídia, em vão, para tentar fazer o casal confessar o crime."
"Estamos vivendo o epicentro do Direito Penal do inimigo. A população quer vingança, não a Justiça", afirmou o advogado José Carlos Dias. Para o ex-ministro da Justiça, o clamor social que envolve o caso só fez aumentar a responsabilidade do Ministério Público que, segundo ele, não pode deixar de pensar no Direito Penal e aplicá-lo. "O promotor tem de ter equilíbrio para não se deixar levar pela emoção. Ele não pode aplicar o Direito Penal do inimigo."
O ex-ministro também criticou a Polícia, que tachou de "incontrolada e incontrolável". "Agora, os tribunais superiores vão decidir se vale ou não a presunção de inocência. É o Judiciário quem será julgado pela sociedade", afirmou.
O comportamento do promotor Francisco Cembranelli, responsável por denunciar Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella, também foram criticados, pela quebra de sigilo do caso e por ter convocado entrevista para falar sobre o caso. O promotor de Justiça Roberto Livianu, presidente do Movimento do Ministério Público Democrático, ressaltou que o promotor precisa ser cuidadoso para que a exposição midiática não deturpe o processo. "O grau de exposição e a comoção pública causam interferências no julgamento", disse. Acrescentou que o bom promotor tem de resistir ao clamor público para trabalhar com responsabilidade: "Ele não pode ser visto como um vingador da sociedade".
Para o psicanalista Jacob Pinheiro Goldeberg, a sociedade agiu como se estivesse assistindo a uma novela. Explicou que, em razão do pré-julgamento do casal, um segmento da sociedade chegou a torcer para que os culpados fossem outros. "Esse casal foi condenado desde o primeiro momento. Isso é execração pública, que é o ovo da serpente totalitária".