sábado, 10 de julho de 2010

O Sensacionalismo

Sensacionalismo é geralmente o nome dado a um tipo de postura editorial adotada regular ou esporadicamente por determinados meios de comunicação, que se caracteriza pelo exagero, pelo apelo emotivo e pelo uso de imagens fortes na cobertura de um fato jornalístico. Exagero de tal fato exibido com muitas cenas emotivas e de certa forma generalizando o tema exibido. Ultimamente usa-se esse recurso para ganhar audiência, pois choca a mente dos espectadores. Esta prática não é um fenômeno isolado, ou seja, faz parte de um processo histórico e cultural, sendo influenciado por matrizes como a pornografia, o melodrama, o folhetim, o romance gótico, a literatura de horror, a literatura fantástica e o romance policial.
A cada momento, deste final de milênio, estamos sendo bombardeados por uma série de informações jornalísticas que nos levam a repensar qual seria, de fato, o papel da imprensa moderna e, até que ponto, ela conserva seu princípio ético de divulgar temas de interesse público ou se, alternativamente, ela vem explorando assuntos interessantes para o público.
Muito tem se falado na distinção existente entre a chamada grande imprensa caracterizada como séria, formadora de opinião e a pequena imprensa, que apela para aspectos popularescos, manipulando os leitores, divulgando informações sensacionalistas. Se o aspecto crítico é característica da primeira, parece correto afirmar que a função apelativa é atributo da segunda.
Se no primeiro caso o texto deve revelar sua referencialidade, fato que lhe confere valor documental, já no segundo, o texto, muitas vezes é enfraquecido, pois a palavra passa a ser mero instrumento, enquanto fotos consideradas extravagantes falam mais alto.
Conferimos assim, à imprensa genuína, a razão precípua de informar com exatidão, formando em seu leitor, o processo gerador de conhecimento consciente. Neste sentido, estamos diante do que Roland Barthes chama de "texto fetiche", palavras que por sua elaboração textual, ganham vida e plasmam mensagens que conduzem ao texto envolvente. Ao levantarmos esta perspectiva, conferimos ao jornalista a possibilidade de engendrar matérias “atraentes” que o tornam um lapidador da palavra.
Em contrapartida, quando se trabalha exclusivamente com fatos bombásticos, o imediatismo faz-se presente e cria o que podemos chamar de jornalismo frívolo, que vive e se sustenta da desgraça e das banalidades que fazem parte do cotidiano.
O leitor é levado a vivenciar o processo catártico, no qual extravasa seu sucesso, ou sua tragédia pessoal. É como se a leitura lhe permitisse assumir um pacto romanesco, no qual ficção e realidade se mesclam, com a pluralidade do caleidoscópio. Mas surge aqui um questionamento: entre a veiculação dos dois tipos de mensagem, qual a que atinge, realmente, o leitor, não só em termos quantitativos, mas também no que se refere a formação de sua essência sensível?
Não se trata aqui de um dilema entre qualidade x quantidade, mas algo muitíssimo mais amplo que se instaura na sociedade em que vivemos e que nos configura, com nitidez fotográfica, esta mesma sociedade, porque na verdade, é um símbolo de suas necessidades explícitas e também das mais recônditas.
Para analisarmos os aspectos mencionados, partiremos de um exemplo exaustivamente explorado pela mídia sensacionalista, ou não, ocorrido na primeira semana de setembro de 1997, ou melhor, na semana em que o mundo parou.
Todos os olhos se voltaram para a tragédia ocorrida em Paris na fatídica madrugada de 31 de agosto no Túnel de l'Alma. Como uma profecia fúnebre, morria em acidente automobilístico a princesa Diana de Gales e, talvez, de todo o mundo.
“Sua morte prematura provocada, quem sabe, pelo assédio dos “paparazzi” gerou o questionamento seguinte: em que medida o interesse pela aparência divulgado pela imprensa alternativa teria, em parte, responsabilidade pela exposição cruel a que “mitos” atuais estão sujeitos”?
Não há dúvida de que a mídia conduziu Diana até sua morte. Porém, cumpre olhar o reverso da moeda, visto que existem várias versões afirmando que a própria princesa teria interesse em cunhar uma imagem de embaixatriz humanitária e "rainha dos corações", envolvendo a imprensa num jogo de sedução.
Considerações à parte, não se pode deixar de constatar que, se viva, a princesa motivava a mídia, morta, ela preencheu páginas, sem conta, nos periódicos mundiais.
No entanto, para ilustrar ainda melhor nosso questionamento inicial, outro fato, extremamente significativo, ocorreu num processo de simultaneidade ao acima descrito: a morte de madre Teresa de Calcutá.
A cobertura dada ao desaparecimento daquela que colocou toda sua vida a serviço dos empobrecidos, Prêmio Nobel da Paz em 79, não mereceu por parte da imprensa destaque comparável. Afinal, sua imagem despojada de "glamour" e voltada exclusivamente para causas humanitárias, não interessa ao leitor com a mesma intensidade... Ela não faz parte do sonho. É real, duramente real.
A linha divisória entre o interesse público e o interessante para o público é tênue e depende, em parte, do modo pelo qual é explorado sob o ponto de vista jornalístico. Neste sentido, exige grande capacidade de discernimento tanto de quem escreve, quanto de quem lê. Concluindo, a tarefa jornalística exige a conscientização da extensão das mensagens veiculadas, balizando o alcance da intervenção da imprensa na sociedade. É desafiador conceituar processos de criação, principalmente se invocamos parâmetros fixos. Exemplificando, Mathew Parris, do "Times" de Londres, afirma : "Os jornais de prestígio só esperam os tablóides darem a primeira mordida para avançar sobre a carniça ".
Portanto, um dos grandes desafios da imprensa é buscar com precisão o direito à informação, divulgando assuntos, cujo enfoque particular, sejam significativos para a formação da opinião pública.
É urgente publicar mensagens que, comprometidas com a verdade, apresentem soluções críticas e criativas para uma sociedade que, sedenta de curiosidade, possa vir a se tornar sedenta de conhecimento e mais próxima do Amor.
O trabalho desenvolvido pela polícia no caso da menina Isabella Nardoni também foi alvo de críticas ferozes e a análise psicanalítica do assunto ainda mostrou que a comoção popular é motivada, muitas vezes, pela necessidade que as pessoas têm se transformar o outro em monstro para se diferenciar daquele. O encontro apontou culpas e as falhas dos vários atores dessa relação entre mídia e processos judiciais.
Segundo Rahal, o jornalista Mario Cesar Carvalho, repórter especial da Folha de S. Paulo, "foi o maior alvo de questões e as respondeu com sinceridade e ousadia muito impressionantes, tendo feito ácidas críticas à polícia de forma geral".
Carvalho, segundo relato da jornalista Gláucia Milicio, do "Consultor Jurídico", disse que, apesar de os jornais não tomarem medidas de precaução ao noticiar o caso Isabella, e disputarem de maneira tola a informação com a TV, a comoção foi criada pela Polícia: "Parte da Polícia é corrupta e mal preparada e usou a mídia, em vão, para tentar fazer o casal confessar o crime."
"Estamos vivendo o epicentro do Direito Penal do inimigo. A população quer vingança, não a Justiça", afirmou o advogado José Carlos Dias. Para o ex-ministro da Justiça, o clamor social que envolve o caso só fez aumentar a responsabilidade do Ministério Público que, segundo ele, não pode deixar de pensar no Direito Penal e aplicá-lo. "O promotor tem de ter equilíbrio para não se deixar levar pela emoção. Ele não pode aplicar o Direito Penal do inimigo."
O ex-ministro também criticou a Polícia, que tachou de "incontrolada e incontrolável". "Agora, os tribunais superiores vão decidir se vale ou não a presunção de inocência. É o Judiciário quem será julgado pela sociedade", afirmou.
O comportamento do promotor Francisco Cembranelli, responsável por denunciar Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella, também foram criticados, pela quebra de sigilo do caso e por ter convocado entrevista para falar sobre o caso. O promotor de Justiça Roberto Livianu, presidente do Movimento do Ministério Público Democrático, ressaltou que o promotor precisa ser cuidadoso para que a exposição midiática não deturpe o processo. "O grau de exposição e a comoção pública causam interferências no julgamento", disse. Acrescentou que o bom promotor tem de resistir ao clamor público para trabalhar com responsabilidade: "Ele não pode ser visto como um vingador da sociedade".
Para o psicanalista Jacob Pinheiro Goldeberg, a sociedade agiu como se estivesse assistindo a uma novela. Explicou que, em razão do pré-julgamento do casal, um segmento da sociedade chegou a torcer para que os culpados fossem outros. "Esse casal foi condenado desde o primeiro momento. Isso é execração pública, que é o ovo da serpente totalitária".

Bob Marley

Bob Marley pode ser reconhecido como a figura mais importante da música do século 20. Mas nas últimas duas décadas desde que Bob Marley se foi, ficou claro que ele é, sem questionamento, uma das mais transcendentes figuras dos últimos cem anos. As ondas desse conjunto sem paralelo de obras se irradiam para fora através do rio de sua música até um oceano de política, ética, moda, raça, filosofia e religião. A sua história é a de um mito atemporal que se manifestou neste mundo, bem defronte aos nossos olhos incrédulos.
Diferente dos meros pop stars, Bob era tanto uma figura moral e religiosa como um dos maiores vendedores internacionais de discos.
Mesmo grandes como os Beatles foram, você dificilmente vê alguém com uma camisa dos Beatles, exceto pela face comovente de John Lennon. Você poderia imaginar uma imagem de Elvis na bandeira de um batalhão de guerrilha? Quando foi a última vez que você viu uma faixa de Michael Jackson ou um sarong com Bob Dylan ou uma seda da Madonna? Tudo isso existe no formato Marley, pois sua iconografia se tornou uma nova linguagem universal, o símbolo da liberdade em todo o mundo.
A maioria dos pop stars que atravessaram o último século tinham o entretenimento como o seu primeiro e último objetivo. Não era assim com Marley. Ele era consciente do seu papel como o veículo da mensagem rastafari para a consciência do mundo exterior. Ele não ligava para as armadilhas terrenas e o que mais amava era nada mais do que descansar na terra fria de Jah `a noite, vendo o céu se revolver acima de sua cabeça, com uma pedra como travesseiro. Ele estava aqui para chamar seu povo para Jah.
Assim, não podemos comparar Marley com outras figuras conhecidas do meio musical. Como na área política, ele as excedeu, ainda que suas ações tenham feito com que ele fosse visto como um líder político profundamente radical. Mas a sua era a anti-política da salvação através do amor e somente pelo amor, com uma inabalável consciência da unidade de toda a humanidade.
Pelo lado da inovação, Marley era um sintetizador multi-talentoso de novas idéias e ritmos. Seu primeiro trabalho solo no alvorecer da era do Ska, veio juntamente com suas experiências contínuas com a música gospel, o rhythm and blues, o rock, folk, jazz, música latina, scat singing, disco music e mesmo a bossa nova. Bob entendeu que o reggae tinha a magnífica capacidade de absorver todas as outras influências e ancorá-las solidamente `a bateria e ao baixo, marcando-os como o elemento essencial, o doce e sedutor segredo do seu sucesso.
Na verdade o real segredo é que a música de Marley é sobre alguma coisa. Tem um valor. A arte de Bob é a vida transformada, respondendo `as nossas maiores necessidades. Ainda que Bob tenha se tornado um artista comercial, ele não estava fazendo uma arte comercial. A sua arte transcendeu a banalidade pop. Existem muitos que juram ter sua música literalmente salvado suas vidas.
É nesse vasto número de admiradores que a obra de Bob continua a nos atrair, fazendo com que nós consigamos sentir a sua óbvia imortalidade, mesmo deste ponto de vista próximo. Bob Dylan pode ter sido o mais respeitado poeta da sua geração, mas as suas letras, muitas vezes escritas de modo deliberadamente obscuro, não se deixam traduzir claramente, limitando o seu apelo para o público que não fala o inglês. Marley, por outro lado, refinou a arte de suas letras até uma perfeição sólida, usando a linguagem das ruas para atingir as estrelas. As suas palavras eram tão perfeitamente simples que adquiriam eloqüência. Hoje, suas histórias elementares podem ser relatadas e entendidas por pessoas de qualquer lugar que sofram, que amem e que anseiam por redenção. Em outras palavras, como qualquer um de nós.
A pronta adoção da erva por Marley e o menear cativante de suas tranças, que cresceram mais ferozmente assim que os anos 70 se esvaíram, contribuíram para a sua imagem de rebelde `a toda prova. Era tratado como uma divindade por jovens desafiadores e revolucionários rodados, que o reconheciam como um deles, adotando-o em Harare durante a independência do Zimbabwe e enviando para ele mensagens de solidariedade, das selvas peruanas até os esconderijos do Himalaia.
Bob Marley é a escolha mais clara para ser reconhecido como o Artista do Século 20, ao menos dentro dos limites da música e provavelmente mais além. Eu agora prevejo com confiança imprudente que as melodias de Marley ainda prevalescerão por centenas de anos no futuro acima de qualquer compositor que tenha vivido. No Woman no Cry ainda limpará as lágrimas da face de uma viúva; Exodus ainda irá levantar o guerreiro; Redemption Song ainda será um contundente grito pela emancipação de todas as tiranias, físicas e espirituais; Waiting in vain ainda irá seduzir e One Love será o hino internacional de uma humanidade mestiça vivendo em unidade, em um mundo sem fronteiras, além das crenças, onde todos terão aprendido enfim a se reunir e se sentir bem.
No fundo do coração dos corações, Bob Marley ouviu a harmonia dos céus e compartilhou este som celestial com o homem `a procura de Deus que existe em cada um de nós.