quinta-feira, 23 de setembro de 2010

“O Pianista” – Roman Polanski

O filme “O Pianista” de Roman Polanski, recebeu várias críticas no Brasil, tanto as construtivas quanto as destrutivas (coisa que é comum), desde os elogios mais rasgados até aos defeitos “mortais” foram expostos a todos. Confesso que quando fui assistir ainda estava confuso com tudo que disseram sobre o filme e não tinha idéia do que esperar daquelas próximas duas horas.
Ao terminar o filme fiquei extasiado com tudo aquilo que vi, minha cabeça foi a “mil”, pensei comigo: não sei se essa foi a melhor hora de assistir este filme! Pois em minha mente estava muito fresca a idéia de guerra, quer dizer, está muito fresca! E tudo isso sem contar com a guerra civil que estamos enfrentando no Brasil, é muito perturbador isso tudo, você liga a TV e pode escolher qual canal você quer acompanhar a guerra, talvez aquele “mais legal” ou aquele outro “mais ousado” e o que é pior, tudo ao vivo, mesmo assim prefiro o cinema que como documentário nos mostra tudo com uma pequena diferença, de um jeito mais “lírico”, se é que pode existir isso.
O filme de Roman Polanski é ótimo, excelente. A maior injustiça foi feita este ano no Oscar, ter dado o prêmio de melhor filme para “Chicago” (não estou tirando o valor do filme), mas o melhor mesmo foi “O Pianista”. Cada dia que passa me convenço mais e mais que o que rege tudo no mundo é a política, “a habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados a quem lhes é favorável”. Seja na guerra, na paz, no dinheiro e agora até no entretenimento... como é possível explicar O Pianista não ter ganho o Oscar de melhor filme se teve seis indicações e ganhou três das mais importantes (diretor, ator e roteiro adaptado), ganhou o Palma de Ouro em Cannes (apesar de alguns críticos dizerem que foi pelo conjunto da obra de Polanski), ganhou sete Césares e o BFTA.
Enquanto Chicago que também com louvor ganhou três Globo de Ouro (melhor filme de comédia ou musical, melhor atriz para Zellweger e melhor ator para Gere) e teve treze indicações ao Oscar ganhando seis, sendo quatro de prêmios técnicos e ainda assim levou o Oscar de melhor filme. É claro, seria muita “burrice” minha pensar que a Academia daria o Oscar mais esperado da noite a um filme de guerra em plena guerra, seria o “ó” da hipocrisia? Ou será que por causa da Miramax? Política? Para não se render totalmente à Polanski? Ou será que Chicago mesmo não ganhando nenhum dos prêmios importantes e nem sequer indicando seu melhor ator é realmente melhor que O Pianista?? Afinal, a Academia deu o prêmio a Michel Moore (Jogando Boliche por Columbine – Documentário) e ele é anti Bush, e seu documentário faz críticas ao governo... mas a resposta para todos estes pontos de interrogações é simples, se pensarmos bem, mais uma vez a Academia ficou em cima do muro, literalmente!!! Enfim, deixemos a política de lado e vamos falar sobre o filme.
O filme é lindo (no sentido cinematográfico, claro) muito bem conduzido, mostrando os dias de um pianista Polonês tentando sobreviver diante de todos os absurdos da guerra. O filme mostra muito bem o gueto de Varsóvia, a humilhação, a fome, a sujeira e é claro, a morte de um modo especial, com uma visão muito verdadeira (mortes mostradas em primeiro plano), faz com que a gente saia do cinema com a certeza que tudo aquilo foi real, que pessoas passaram por aquilo e que não é fantasia muito menos um musical, apesar da boa música. Polanski foi mais que merecedor deste prêmio.
Só uma pessoa que passou por tudo aquilo poderia mostrar com tanta verossimilhança. Confesso que por várias vezes fiquei com aquele famoso nó na garganta, fechei os olhos para determinadas coisas e senti vergonha de fazer parte desta humanidade tão violenta e hipócrita. Sentimento que recentemente senti assistindo Cidade de Deus e a última vez que vi algo muito bem feito sobre a temática foi através do ícone A Lista de Schindler (Steven Spielberg). Em relação às atuações elas foram ótimas, Adrien Brody dispensa comentários, só vendo mesmo.
Thomas Kretschmann, Emilia Fox, Ed Stoppard, Frank Finlay, Julia Rayner, Jessica Kate Meyer ajudam e muito o filme, mas o que eu quero ressaltar são as atuações dos figurantes, daqueles cujo os papeis são secundários, cujo papeis teoricamente não teria muita importância e mais uma vez Polanski surpreendeu.
É de tirar o chapéu, incrível como tudo parece ser mais real do que já é, a cena em que alguns judeus são obrigados a dançar é maravilhosa, nitidamente você nota o medo, raiva e angustia em semblantes totalmente desconhecidos da massa. E por falar em boas cenas, quero destacar uma que ficou marcada em minha mente, é a em que Wladyslaw toca piano para o Alemão que o encontra escondido, é simplesmente maravilhosa, tudo destruído pelos alemães, o quarto a cidade e o próprio pianista que esta em ruínas, o alemão manda ele tocar uma música e a gente se pergunta será que ele vai conseguir? E ele começa a tocar piano meio tímido “fora de forma” e aos poucos começa da dedilhar como se nada tivesse acontecido ou acontecendo, uma fotografia maravilhosa e uma luz perfeita.
Como eu já disse no começo, é um dos melhores filmes do gênero que já assisti e quem melhor escreveu sobre isso foi o crítico Rodrigo Fonseca do JB que disse...” além de uma poética perturbadora que tenta buscar o que há de belo no feio e o que pode haver de esperançoso num cenário de dor... Polanski e a poesia do absurdo.” Vale muito a pena ver, e tenho certeza que vocês vão concordar comigo em pelo menos uma coisa, O Pianista foi o melhor filme de 2002.

“Chinatown” - Roman Polanski

Falar de Chinatown apenas como uma mera homenagem ao film noir, e pior, assistí-lo desta forma, significa limitar profundamente o potencial de uma das mais extraordinárias experiências cinematográficas às quais um espectador no limiar quase inocente de sua passividade pode ser submetido. E se todo noir é meio como um parágrafo a mais no extenso tratado da dubiedade humana, o filme do polaco é uma espécie de resumo da coisa toda. O filme é dirigido por Roman Polanski e foi lançado em1974.
O roteiro de Robert Towne é uma complexa e incrivelmente densa aula de como, afinal, se escreve pra cinema. O tempo todo brincando com o espectador, o tempo todo engendrando detalhes e promovendo um número de reviravoltas que quase não cabe em 130 minutos. E há uma série de ecos internos, um diálogo do filme consigo mesmo que por sinal é um simulacro da própria atividade de J.J. Gittes, cujo fundamento ao qual quase sempre o detetive é fadado é percorrer toda a amplitude de um caso para reencontrar a solução, sob outra perspectiva, no início do círculo.
O modo como a buzina do carro de Evelyn é usada da primeira vez para causar um efeito tão forte no final do filme é coisa pra ser documentada e catalogada como artifício de linguagem. Chinatown ainda oferece uma galeria de personagens fantásticos.
A cena do primeiro encontro de Gittes e Evelyn é antológica e praticamente resume o tom que permeia a relação dos dois por quase todo filme, com Evelyn escondendo-se sob uma parede de gelo enquanto Gittes tenta sem sucesso disfarçar sua vulgaridade natural (coloque-se a ênfase em qualquer das duas palavras) com um terno riscado, um cigarro e um vocabulário muito frágil e cuidadoso.
Lou Escobar é o referencial determinante para o ar de fracasso que persegue Gittes de antes, durante, a depois do tempo presente do filme. E por uma simples diferença de adaptação, tanto numa Chinatown quanto (daí um pessimismo constante por toda a obra) em qualquer outro lugar onde deve-se (ao que parece, sempre) “fazer o menos possível”. E de Noah Cross resta John Huston (um dos diretores angulares na construção do film noir) com um desempenho inacreditável na caracterização definitiva do velho rico e asqueroso, reduzindo a nada a distância entre o sádico e o divertido.
Talvez o que mais aproxime Chinatown do noir (ou melhor, o que o torna um representante genuíno do ‘gênero’), acima dos arquétipos como detetives, crimes intrincados, femme fatales… é um sopro intenso de amargura como matéria-base. Os acontecimentos sempre terminam corroendo e derrubando seus personagens (e No Silêncio da Noite é o filme essencial neste sentido). Inclusive é difícil acreditar que Robert Towne imaginasse um final diferente, e que Roman Polanski teve que conquistar aquela que é a cena-chave do filme à força. E é o final mais trágico possível, onde todos os maiores medos dos protagonistas foram preenchidos com uma ênfase de crueldade.
Chinatown é daqueles filmes que merecem mesmo um estudo minucioso. Muito do que construiu o cinema neste mais de um século está ou explícito ou latente nesta que é uma das maiores obras-primas do cinema americano. Um noir épico.

“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” - Otto

“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é o quarto álbum de Otto, foi lançado em 2009. Desde que saiu do Mundo Livre S/A, Otto passeou entre elogios e críticas negativas a sua proposta musical na mesma proporção. Sempre achei interessante o seu trabalho, apesar de considerar que em alguns momentos há certos deslizes, mas nada que comprometa muito. Sem lançar nenhum disco de inéditas desde “Sem Gravidade” de 2003, que já mostrava diferenças em relação aos álbuns anteriores, o pernambucano volta à tona.
Inicialmente foi somente lançado no exterior, angariou bons comentários de jornais como o Boston Globe e o New York Times. O nome do disco extraído da primeira frase do clássico de Franz Kafka, “A Metamorfose”, representa muito do que se ouve nos 40 minutos, pois vemos uma transformação da sua música, ainda que esta seja sutil e não tão drástica como a imaginada por Kafka.
Com um certo desgosto por gravadoras, Otto resolveu construir o seu novo disco todo baseado na amizade. A banda é composta por Fernando Catatau do Cidadão Instigado na guitarra, além de Dengue e Pupillo da Nação Zumbi respectivamente no baixo e bateria. Pupillo também ajudou na produção e a gravação foi feita no estúdio Totem de propriedade de Fernando Catatau e Kalil Aiala. A capa ficou por conta do artista pernambucano Tunga.
Nas 10 faixas temos a participação especial de Céu, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado) e da mexicana vencedora do Grammy, Julieta Venegas. “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é um disco mais orgânico, com maior influência do rock e da mpb, mais melódico, mas sem deixar de lado a eletrônica e a mistura de ritmos que Otto sempre promoveu. Sem dúvida é o trabalho mais acessível da discografia do artista até aqui.
Todas as faixas descem redondas, sendo que a parceria com Céu em “O Leite”, a visceral “Crua”, a poderosa “6 Minutos” com uma interpretação forte de Otto e de Fernando Catatau na guitarra, além da releitura de “Naquela Mesa” do repertório de Nelson Gonçalves, merecem um maior destaque. No disco, Otto acerta em cheio e com simplicidade e na base da amizade cria o seu melhor registro.
O álbum traz 10 faixas e pode se dizer que este é um disco de amor. Não de amor romântico e meloso, mas sim de um amor mais amplo, um amor fraterno e de devoção. O lado fraterno vem principalmente na brega e bela “Naquela Mesa”, regravação de Sérgio Bittencourt que narra as lembranças do filho sobre um pai ausente. O órgão dá um clima nostálgico e melancólico e o estilo de cantar de Otto traz à memória cantores como Agepê, Luiz Ayrão e Benito di Paula. Brega, mas bacana.
A devoção está presente na canção “Janaina”, homenagem à Iemanjá. Musicalmente esta pode ser uma reminiscência do tal manguebeat. Os tais batuques do estilo em que Otto começou sua carreira pouco aparecem neste trabalho. Felizmente. Traz também uma junção interessante de orquestra e instrumentos de percussão. Muito legal e bem interessante.

“Império dos Sonhos” - David Lynch

“Império dos Sonhos, do diretor David Lynch, é um filme suspenso no ar, pra ser assistido com a cabeça partida ao meio, distante de tudo já visto, de tudo que o cinema ensinou quanto à sua formulação. É preciso vê-lo com se fosse o primeiro filme do mundo. Ele nos mostra uma forma significativa de limitar profundamente o potencial de uma das mais extraordinárias experiências cinematográficas às quais o espectador pode ser submetido.
Não estou certo, mas, mesmo que soe um impropério desmedido se tratando de David Lynch, não quero acreditar que ele ainda possa ir além de Inland Empire. Se for, uma fenda vai se abrir no céu e tragar o universo. Nada nunca foi tão extremo, até mesmo para um cineasta extremo, como Lynch. Por mais que Eraserhead e Cidade dos Sonhos sejam pesadelos em película, ainda mantém um fio de conexão com o mundo fora do sonho, no qual o espectador pode se agarrar com todas as forças para não ser engolido pelo redemoinho mental do diretor. Império dos Sonhos simplesmente desrespeita qualquer comparação. É aterrorizante, destrutivo, a mais profunda das dimensões paralelas, onde não há a menor possibilidade de distinção entre um plano e outro; se o mental, o ficcional ou o real (imaginando que este chegue em algum momento a existir).
A mente de Nikki é despedaçada e liquefeita, dando partida a algo novo, que não é loucura ou sanidade, ódio ou paixão, alegria ou terror, mas tudo no mesmo espaço ao mesmo tempo discorrendo na mais absoluta liberdade. Não se encaixa Império dos Sonhos em termos calcados numa base palpável.
Pra mim, Império dos Sonhos foi o tempo todo (e em todos os tempos) metacinema, incluindo talvez muito (ou quase tudo) do próprio David Lynch enquanto autor. Nikki é digerida por seu trabalho, repartindo-se numa multiplicidade de cenas e personagens, implodindo-se numa via-láctea de faces, emoções e situações. Se ela começa como pessoa, única, bastando-se em si, é logo consumida pela Hollywood, pelo próprio cinema, passando a viver todos os tempos distintos entre todos os filmes contidos dentro de Império dos Sonhos, de uma vez só, como quando conversa com todas as prostitutas dentro de um quarto fechado.
Não sei se é o melhor do Lynch porque o filme simplesmente não permite alinhamento a outros títulos, é coisa de outro mundo, de outra época. Além do mais, ele está corroendo minha mente. Estou prestes a entrar em coma, estou a dois passos do autismo

“Play” - Moby

O album “Play” do Moby, lançado em 1999, criou um estilo música eletrônica para todos os públicos. Ele coincidiu com o fim de um apelo mais restrito desse gênero musical, ainda que seja injusto dizer que foi o único responsável pela disseminação da música eletrônica junto ao grande público: o sucesso deste disco se deve, em grande parte, á inclusão de elementos de blues, gospel e rock.
Apesar de músicas como "Honey" e "Bodyrock" terem se tornado clássicos das pistas - de Ibiza a São Francisco -, este não é um disco de dance, mas um álbum pop. Pois o Moby se inspira em várias fontes, construindo a irresistível música de abertura, "Honey", em torno de curtos samples da maior representante do blues da Geórgia, Bessie Jones.
Play se torna bem legal no sentido essencial da obra, pois se utilizando de elementos fora do comum ainda sim está enquadrado no contexto da musica eletrônica.
Em referência à seus anos mais underground, Moby ainda hoje é considerada um banda clássica no cenário eletrônico-pop, utiliza suas batidas frenéticas do tempo em que a gente ainda dançava jungle.
O interessante é que o álbum teve um êxito comercial esmagador, atingindo o primeiro lugar das paradas inglesas e tendo vendido mais de dois milhões de cópias.
Esse disco tem aquela chamada “pegada eletrônica”, e é tido como um dos álbuns mais marcantes da musica eletrônica. É nesse sentido que Popularescos ou não, é inegável que “Play” contribuiu para a formação da história da cena eletrônica em todo mundo.
Tudo é bem legal, eu particularmente recomendo a todos os tipos de públicos: dos críticos aos adeptos. Convoco a todos venha provar um pouco desse ambiente bastante diversificado e interessante que a música eletrônica nos proporciona, no contexto do álbum “Play”.

“Por Pouco” – Mundo Livre S/A

Mundo Livre S/A é uma banda nascida em 1984 em Recife, PE. O nome foi retirado do personagem de TV Agente 86, que fazia diversas apologias ao mundo livre. Nasceu no bairro beira-mar de Candeias, em Recife, mesmo lugar em que foi redigido o manifesto Caranguejos com Cérebro, marco do Movimento Mangue, que prega a universalização/atualização da música pernambucana. Fred Zero Quatro, vocalista do Mundo Livre S/A, foi o autor do manifesto, juntamente com Renato L. e Chico Science. O Mundo Livre foi uma das bandas fundadoras do movimento Manguebeat.
Como dizia Otto, Fred Zero Quatro é a mistura de Jorge Ben com The Clash. Difícil pensar numa combinação como essa, mas isso só se você ainda não ouviu Por Pouco. A variedade de ritmos (rock, reggae, rockabilly) e o discurso politizado do Clash estão presentes. O samba, bossa, samba rock, swing, lirismo, safadeza de Jorge Ben, também. A eles coloque-se uma pitada de Tom Zé e, pensando bem, não poderia haver melhor definição para este disco (Por Pouco 2000).
E uma palavra que une as três facetas é ironia. Tapa na cara, mas sem luva de pelica, nos melhores momentos, o disco serve de espelho da mediocridade da vida urbana brasileira do início do novo milênio, inútil, manipulada, que vem e vai no trânsito, no Jornal Nacional, no consumismo, no sonho da casa própria e na gostosa que sonhamos inutilmente um dia comer. Essa desilusão ganha um desenho extremamente sarcástico em Por Pouco, herdeira direta de Inútil, do Ultraje a Rigor, anti-hino da derrota das Diretas Já nos 80. Ela é um retrato do Brasil, o país das intenções nunca realizadas, da bola na trave, o país do futuro só que o ano 2000 chegou e a gente estava na mesma.
“Estamos quase sempre otimistas
Tudo vai dar quase certo
Pois o ano esta quase acabando
Depois de termos quase certeza
Que dento em breve teremos um quase alegre carnaval
Por pouco não trouxemos o penta
Quase acertamos na loto
Quase compramos a casa
Quase ganhamos o carro
A moça da banheira ficou quase nua
A gostosa da praia quase dá, não dá”.
Desilusão que já está presente desde a primeira música. Com jeito de manifesto, o Mistério do Samba é imperativo em sua desconstrução de tudo o que o samba não é:
“O samba não é carioca
O samba não é baiano
O samba não é do terreiro
O samba não é africano”
E por aí vai, como se dissesse, o samba é livre, “não tem mistério”, terminando na conclusão perfeita: “E como reza toda tradição, é tudo uma grande invenção”.
Nesse clima de desilusão, o disco encontra um espaço para o amor, em momentos carinhosos e safados. Que nem Mexe Mexe, composta por Jorge Ben, ele mesmo, que é Jorgebeniana até o último fio de cabelo, sem o menor pudor. Começa com uma levadinha no violão, boa de dançar, devagar, difícil não mexer pelo menos a perna embaixo da mesa. Na sequência vem o Melô das Musas, com um elogio explícito a Wânia, a mulher "com um dábliu maiúsculo, um dábliu formidável, bem maior que minha testa", gostosíssima, saindo do mar e “eu não vou sair daqui sem ver ela sair da água”.
Daí o ritmo acelera forte pra Treme-treme, versão de Shackin’ all over, que vira “se tremendo toda”, rock com clima Clashiano, nervoso. “O seu olhar me comanda e manda eu me mexer. E a tremedeira é rebatida pra você”. É nervosa também na ansiedade dele pela conquista e daí a tremedeira passa pra ela, vira um orgasmo.
E depois da transa, do sexo forte, vem aquela relaxada na cama. Meu Esquema, uma bossa swingada, sopros suaves, a declaração de amor mais masculina que conheço: “ela é meu treino de futebol, ela é meu domingão de sol, concerto de rock and roll, torcida gritando gol, playcenter, pista alucinada, inferninho, esporte radical, poderosa viciante, mas não faz mal, o que meu médico receitou, Rivaldo maravilha mandando um gol, minha chapação”. Lendo assim, parece ridiculamente machista, mas Fred Zero Quatro dá a ela uma convicção que muda completamente a maneira como a gente entende cada palavra.
Mas esse é um lado do disco. O outro é o do discurso politizado que apesar de às vezes beirar o panfleto, tem também sacadas excelentes. É metralhadora giratória, e sobra pra todo lado: a violência urbana (“Algo me alvejou, ai, olha o sangueiro irmão, segura que eu vou cair”, no samba Tomzeniano Super Homem Plus); a sociedade de consumo e o mercado (“O mercado vive em guerra... Não há lugar pra escrúpulos... Cedo ou tarde você vai se entregar ao mundo livre, não adianta, não há como escapar”, de Concorra a um Carro); os Estados Unidos em Lourinha Americana; as mega corporações, a Nike, o Congresso, os governos, os partidos e políticos em Batedores.
Dentro desta perspectiva, Por Pouco é o Cabeça Dinossauro dos anos 90. Retratos do país, cada um em seu tempo mostra quem éramos. O Cabeça, mais explícito em sua crítica às instituições, era raivosamente adolescente, portanto mais inocente, como a democracia, que engatinhava. Por Pouco faz o mesmo, mas com um cinismo de quem está ficando adulto, perdendo as ilusões. Pois é claro que nós crescemos, superamos a ressaca do impeachment, ganhamos a guerra contra a inflação, saímos da faculdade e agora precisamos conseguir um emprego, comprar uma casa e constituir família (lembram do início de Trainspotting?). Se sobrar tempo, quem sabe você não continua indo em busca de seus sonhos? Só que a essa altura você já começou a perceber que aquele futuro brilhante que sua mãe e sua avó tinham certeza que te esperava talvez esteja um pouco mais distante do que você pensava ("Droga, foi por pouco!").
Não é fácil olhar pro nosso lado ruim. O Mundo Livre S/A teve a coragem de fazer isso, olhou o país, mastigou, regurgitou e vomitou Por Pouco em nossa cara. A gente pode até não gostar, mas vai ser difícil não se reconhecer nele. E ainda mais interessante é que apesar de toda a desilusão, o disco termina otimista, com as versões para Minha Galera, de Manu Chao, e de Garota de Ipanema, que exaltam coisas simples, como os amigos, a namorada, a praia. E nisso ele não consegue fugir de ser, ele mesmo, um espelho da contradição brasileira, sempre lidando com problemas que não consegue resolver, sonhando com coisas que não consegue ter, mas sempre otimista, exalando sensualidade e sempre disposto a curtir a vida.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Considerando que o conceito de marketing não se restringe ao de venda, mas está relacionado ao estabelecimento de metas e a administração das trocas simbólicas, estando envolvidos neste processo sentimentos e emoções, qual é o papel das relações públicas no marketing? "por Manoella Neves"

"por Luciano Pinto"
Em meu entender, o relações públicas está situado no contexto do marketing, na relação com o marketing social, que envolve técnicas de publicidade, mas aí não se pretende aumentar as vendas, caso contrário se trataria de questões do Marketing, que também fazem parte do campo das Relações Públicas. Com a otimização da relação de trabalho, compete aos profissionais de relações públicas exercerem a comunicação numa perspectiva diante do marketing. É necessário o estabelecimento de um plano estratégico de comunicação, utilizando os meios mais eficientes para o estabelecimento de suas metas e suas ferramentas de comunicação. É preciso entender que a comunicação completa o marketing, sendo ela o “fazer” e o marketing a “metodologia”, é nesse contexto que o RP atua. Não podemos esquecer que o RP precisa entender os elementos relacionados com a área, para executar suas ações, utilizando a administração, o planejamento estratégico e a qualificação profissional no campo do marketing.