segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Produtos midiáticos e suas representações sociais

Podemos dizer que a mídia é a principal janela interpretativa da vida contemporânea. Por ela conhecemos o mundo através dos desenhos, filmes, seriados, jornalismo, talk shows, entre outros produtos produzidos para atrair o maior número de pessoas (consumidores) possível e gerar lucros. É por ela que construímos uma idéia de como são os povos do outro lado do mundo, de como se comportam cidadãos de diversas culturas, classes e etnias. Dessa forma, podemos também absorver seus valores, sua forma de ver o mundo, seu ethos liberalista ou conservador. Ou seja, tomar a interpretação da mídia como verdade e, assim, construir a nossa visão política.
Antes de continuar, faço uma ressalva. Este texto não trata de uma maneira de mostrar que existe uma manipulação poderosa e irresistível por trás das grandes produções midiáticas de tal forma que a elite – com total domínio dos meios – controle o pensamento das massas de forma irrepreensível. Não, como se sabe, a teoria da manipulação pura e simples é uma argumentação ultrapassada.
Trata-se, portanto, de fazer uma leitura crítica e mostrar que todos os produtos da mídia carregam pontos de vista culturais e sociais específicos que nos ajudam na construção do entendimento da realidade. Ou seja, é através da difusão das "representações sociais e culturais" veiculadas na mídia, que certos valores são perpetuados, rejeitados ou transformados.
Para entender melhor o que são essas representações, apresento uma pequena análise de três produtos midiáticos atuais: o programa CQC (transmitido pela Band), a novela Caminho das Índias (Rede Globo) e o jornalismo da Folha de S.Paulo.
Custe o Que Custar
Em menos de um ano, o CQC (Custe o que Custar) ganhou notoriedade e forte audiência no país. As representações contidas no produto são variadas. Há representações ideológicas positivas e outras negativas. No lado positivo, pode-se argumentar que o programa apresenta jovens honestos, extremamente insatisfeitos com a corrupção na política e na sociedade, chegando a sofrer ameaças de censura. Assim, pode-se dizer que sua representação serve como uma espécie de "incentivo" aos jovens para tomar consciência política cidadã; exigir conduta ética de seus representantes e combater a corrupção.
Já do lado negativo, pode-se dizer que o programa possui o seguinte "eu ideológico": é totalmente formado por homens, brancos e representantes da classe média e alta paulista. Diversas piadas machistas são feitas durante o programa e, não raro, sexistas, colocando a mulher como simples objeto sexual. Não é à toa que o programa já foi processado diversas vezes. Um exemplo que ficou notório foi o caso das integrantes do grupo musical Sexy Dolls, que foram chamadas de prostitutas pelo apresentador Marcelo Tas. O lado machista do programa também é reforçado pelas piadas e brincadeiras satirizando os homossexuais, com ironias sobre comportamentos que seriam "típicos" de um gay, entre os próprios integrantes, às vezes, como se fossem vergonhosos. Assim, sua representação ideológica aponta para o homem branco heterossexual, honesto, machista, sem espaço claro para outras etnias.
Caminho das Índias
Produto cultural bem mais complexo, a novela envolve várias representações sociais e culturais bem mais diversas. Na verdade, seria necessário um livro para analisá-la corretamente à luz dos estudos culturais. Pode-se argumentar que o programa mostra como é errado e ignorante qualquer tipo de preconceito, assim como a exclusão social ao dramatizar a vida dos integrantes da casta indiana Dalits, considerados pó, e não filhos do deus supremo. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a dramatização das castas indianas aponta, de maneira velada, contra o radicalismo religioso de alguns segmentos no Brasil, como no caso dos neopentecostais e até mesmo da Igreja Católica – contrária ao uso de métodos anticoncepcionais.
Ao mesmo tempo, é possível notar alguns traços conservadores. A novela reforça os laços familiares, principalmente quando compara os valores das famílias brasileiras com as da Índia. O que leva a uma reflexão da importância do respeito aos pais, à esposa e aos filhos. Assim, de maneira sutil, acaba fazendo uma crítica aos valores liberalistas culturais, ao mostrar que as conservadoras famílias indianas estariam sendo desmembradas justamente por uma onda liberal ocidental, tornando-as infelizes.
Essa visão, no geral, acaba retomando a posição conservadora patriarcal da família, onde o homem deve ser peça fundamental para guiá-la, no intuito de torná-la bem sucedida. Caso contrário, poderá ser um desastre. Fato reforçado pela imagem da família do personagem Zeca, onde o pai, Sérgio, não "controla" os momentos impulsivos da esposa, nem coloca limites nos filhos. A falta de atitude paterna faz com que Zeca seja rebelde e arruaceiro.
A posição conservadora também é vista no personagem Raul (na ocasião, marido da Sílvia), que acabou pagando um alto preço por causa de seu adultério com a vilã Ivone. O que mostrou que pode ser extremamente arriscado e doloroso ao homem cometer adultério – não vale a pena. Já a vilã Ivone, uma das poucas mulheres independentes da trama, é mostrada como ambiciosa, criminosa, cínica e totalmente desprovida de moralidade, associando as mulheres solteiras e independentes a uma imagem misteriosa e pouco confiável.
Folha de S.Paulo
O jornalismo atual possui diversas teorias bem articuladas. Elas possibilitam análises esclarecedoras sobre o processo de produção de notícias. Uma delas, inserida no grupo que compõem as teorias construcionistas do jornalismo (newsmaking), é a Teoria Interacionista ou Teoria dos Definidores Primários. Tendo essa perspectiva em mente, vamos à pequena análise.
Todos sabemos que o jornal Folha de S.Paulo é voltado para os valores liberalistas. Portanto, sua representação social contribui para a construção de uma realidade que acredita na intervenção mínima do Estado na economia, na privatização, no liberalismo econômico e cultural. É extremamente cosmopolita e, historicamente, simpatizante dos partidos de direita.
As vozes sociais ouvidas na grande maioria das reportagens partem da subordinação às opiniões das fontes que têm posições institucionalizadas, também chamadas de definidores primários. Essas fontes definem o rumo de qualquer notícia. Como diz Nelson Traquina no livro Teorias do Jornalismo, "essa interpretação comanda a ação em todo o tratamento subseqüente e impõe os termos de referência que nortearão todas as futuras coberturas".
Assim, quando a Folha de S.Paulo ouve algum "mega economista" dizendo que o governo deve enxugar sua folha de pagamento, se posicionando contrariamente à grande criação de concursos públicos, parte de uma visão que defende os interesses da classe de empresarial hegemônica. Ela gera uma série de outras reportagens que partem da primeira visão liberalista. A representação interpretativa inicial, portanto, acaba saindo como uma verdade norteadora das reportagens seguintes, inclusive quando se ouve opiniões contrárias.
Prevalece sobressalente, portanto, a crença num mundo liberalista econômico e contrário ao crescimento do Estado. Recentemente, por exemplo, a Folha de S.Paulo defendeu, em editorial, o fechamento da TV Brasil, afirmando que a mesma é um claro sinal de desperdício do dinheiro público. De maneira bem clara, quis afirmar que a melhor saída será sempre a iniciativa privada.


JN
Falar de telejornalismo no Brasil é falar do Jornal Nacional. O programa dita normas, formatos e conceitos sobre o fazer jornalístico no horário nobre. Há mais de 40 anos o programa se mantém, na maioria das vezes, em primeiro lugar de audiência, o que causa na concorrência uma busca incessante pela superação do JN. No entanto, há exceções. O Furo MTV busca referências no JN, não para competir em termos de audiência, mas para construir seus discursos pautados por uma outra lógica, a sátira.
O primeiro paralelo que podemos traçar do JN com o Furo MTV passa pela composição dos apresentadores. Nos dois programas é um casal que apresenta. É importante destacar que no JN o Willian Bonner e a Fátima Bernardes são casados, o que consolida, de alguma forma, ainda mais essa idéia de “casal”. Roger Silverstone, em seu texto, Por que estudar a mídia?, faz alguns apontamentos que considero importante destacá-los. Em um deles, que trata sobre o nosso tempo, ele diz: Nossa mídia existe no tempo… ele [o tempo] é como elas [as mídias] nos contam, não apenas nas fantasias subjuntivas de “como se”, mas por nossa capacidade de nos reconhecer, em alguma parte, durante algum tempo, dentro delas. Analisando sob esta perspectiva e considerando que vivemos uma época de efervescência sexual, onde quase tudo suscita o ideal de corpo perfeito, podemos entender melhor porque Willian e Fátima, que são jovens e bonitos, substituíram Cid Moreira e Sergio Chapelin. No Furo MTV, telejornal da emissora da Abril, Bento Mineiro, que as vezes é chamado de “galã da Favorita”, telenovela global que atuou anteriormente, e Dani Calabresa são os apresentadores, numa clara alusão ao JN.
Seguindo o mesmo raciocínio podemos dizer que o JN dá uma aula de pornografia, lição que é captada pelo Furo MTV, mas em um tom de sátira. Antes de continuar, faz-se extremamente importante desconstruir o conceito de senso comum que temos sobre pornografia. É preciso antes de dar prosseguimento, explicar o que é, para esta análise, erotismo e como ele se configura: O lugar mais erótico de um corpo não é onde o vestuário se entreabre? Na perversão (que é o domínio do prazer textual) não há “zonas erógenas”… é a intermitência, como disse muito bem a psicanálise, que é erótica; a intermitência da pele que cintila entre duas peças (as calças e o suéter), entre duas bordas (a camisa entreaberta, a luva e manga); é essa cintilação que seduz, ou ainda: encenação de um aparecimento-como-desaparecimento. (Barthes, 1976, p. 9 -10). Para Silverstone, o pornográfico é o canto rasgado da vida erótica da mídia e de nossa vida erótica.
O mais interessante nesse processo é perceber características do JN fora do JN. Quando outras emissoras se apropriam de táticas globais e, sobretudo do JN, para construírem seus discursos é que percebemos como sua matriz é constituída. Somente quando vemos os apresentadores do Furo MTV, Bento Mineiro, um pseudo-galã, e Dani Calabresa, uma loira com sotaque interiorano, é que conseguimos pensar naquilo que tem de pornográfico no JN, ou seja, Willian Bonner e Fátima Bernardes. Por fim gostaria de acrescentar: alguém arriscaria dizer que o JN é mais “jornalístico” que o Furo MTV ? Penso que maioria das pessoas diriam que sim, mas aviso, o Furo MTV é mais severo em seu noticiário político que a própria Globo, que nunca teve muito interesse em bater nos medalhões da política brasileira.

Escola Neoclássica

A Economia Neoclássica é uma corrente de pensamento econômico, para qual o Estado não deveria se intrometer nos assuntos do mercado, deixando que ele fluísse livremente, ou seja, o Liberalismo econômico.
Surgida em fins do século XIX com o austríaco Carl Menger (1840-1921), o inglês William Stanley Jevons (1835-1882) e o suíço Léon Walras (1834-1910). Posteriormente, se destacaram o inglês Alfred Marshall (1842-1924), o sueco Knut Wicksell (1851-1926), o italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) e o estadunidense Irving Fisher (1867-1947).
Pode ser dividida entre diferentes grupos, como a escola Walrasiana, a escola de Chicago, a escola austríaca. O modelo de Macroeconomia proposto pelos clássicos, que acreditavam na “mão invisível” do mercado, consagraram três princípios como fundamentos da macroeconomia:
• As forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego, ou seja, quando a demanda e a oferta por mão-de-obra se igualam;
• As variáveis reais da economia e os preços relativos seguem trajetórias diferentes e independentes da política monetária, ou seja, a quantidade de moeda não afeta a capacidade produtiva e laboral de uma economia;
• A quantidade de moeda afeta apenas o nível geral dos preços.
Desenvolvimento Tecnológico
Para os economistas filiados à esta corrente, o progresso técnico torna o fator trabalho mais produtivo e, desde que a oferta de trabalho reaja positivamente ao salário-real, elevará o nível de emprego e o salário real e levar a uma queda no nível de preços.
A evolução do pensamento econômico no século XIX

O século XIX iniciou sob a influência crescente das idéias do liberalismo clássico e dos efeitos da Revolução Industrial. Graças a essas influências, os principais países europeus foram consolidando a organização de suas economias pondo em prática os princípios consagrados por aquela corrente de pensamento: propriedade privada dos meios de produção, livre iniciativa empresarial, busca incessante do lucro, mercado e sistema de preços como principais orientadores das decisões dos agentes econômicos (o que, quanto, como e para quem produzir), tudo isso sob um cenário em que o Estado reduzia cada vez mais sua presença na economia, em contraste com o elevado grau de intervenção que havia prevalecido nos séculos anteriores em razão do predomínio da visão mercantilista, que pode ser sintetizada no binômio absolutismo político + intervencionismo econômico.
Foi nesse cenário que os países pioneiros no processo de industrialização foram expandindo sistematicamente o volume de produção, aumentando consideravelmente a oferta de bens e serviços colocados à disposição de suas respectivas populações. Além disso, ampliavam mais e mais a diferença que os separava dos países que não conseguiam dar início a seus processos de industrialização, tanto na Europa como, principalmente, fora dela, nas longínquas terras da Ásia, da Oceania, da África e da América do Sul. A única exceção fica por conta dos Estados Unidos da América, cuja população constituída em boa parte de imigrantes europeus e seus descendentes já demonstrava um espírito empreendedor, o que permitiu que em algumas regiões do norte e do leste a industrialização começasse precocemente, poucas décadas depois de haver sido iniciada nos países pioneiros da Europa.
Porém, ao contrário do que imaginara Adam Smith, a Revolução Industrial não conduziu ao paraíso. Decorrido mais de meio século do início da Revolução Industrial observava-se que a segurança da antiga economia agrícola - quase artesanal - dos vilarejos fora destruída. Com a urbanização desordenada que ocorreu em torno dos centros industriais emergentes, o novo industrialismo trouxe fábricas cada vez maiores, e os trabalhadores passaram a viver apinhados em sua vizinhança, em favelas ou cortiços, onde o vício, o crime, as doenças, a fome, a miséria, a prostituição e a promiscuidade constituíam o cenário mais comum. Os acidentes industriais ocorriam com freqüência, quer em função das longas jornadas de trabalho, quer em virtude do despreparo dos trabalhadores para interagirem com máquinas que iam sendo incorporadas ao processo produtivo sem que houvesse qualquer treinamento para os que teriam que manejá-las. Tais acidentes traziam miséria, não havendo qualquer compensação para as famílias dos aleijados ou mortos. Não existiam direitos políticos para os assalariados e os sindicatos eram proibidos.
Nessas condições, a pobreza das massas parecia cada vez mais opressiva (uma vez que agora ficava mais aparente já que concentrada nos centros industriais emergentes) e contrastante (à medida que as grandes fortunas se multiplicavam). A constatação de que o simples aumento do volume e da diversidade dos bens e serviços produzidos não significava o fim da pobreza, uma vez que a concentração excessiva da renda e da riqueza dava a muitos a impressão de que a desigualdade estava até se expandindo provocou, nas décadas iniciais do século XIX, o surgimento de duas correntes na história do pensamento econômico: a primeira, de diversos reformadores sociais, entre os quais Saint-Simon, Fourier e Robert Owen, que se tornaram conhecidos como socialistas utópicos, e que acreditavam numa mudança para uma sociedade mais justa por meio de reformas pacíficas e até apoiadas pelos grandes detentores de terra e de capital; a segunda, que tem em Stuart Mill seu exemplo mais ilustrativo, é de uma espécie de dissidência clássica, ou seja, pensadores que tiveram formação econômica através das idéias clássicas de Smith e de Ricardo, mas que foram pouco a pouco se afastando delas e incorporando em suas proposições doses crescentes de preocupação social juntamente com as primeiras idéias utilitaristas.
O fracasso dos socialistas utópicos em persuadir os capitalistas a aderirem a seus projetos humanitaristas fortaleceu ainda mais as idéias de Marx que defendia, entre outras, a tese de que a transição para uma sociedade mais justa só poderia ser feita por meio de um processo revolucionário - luta de classes - dado o caráter exploratório das relações assalariadas de produção, principal elemento definidor do modo de produção capitalista. Em sua pregação, Marx propunha a eliminação da propriedade privada dos meios de produção, que passariam a ser coletivos e administrados por meio de órgãos centrais de planificação, aos quais incumbiria responder as questões fundamentais da economia: o que, quanto, como e para quem produzir.
A rápida penetração dessas idéias, em especial entre os intelectuais e nos meios acadêmicos, estimulou o aparecimento quase simultâneo de trabalhos que apresentavam considerável grau de convergência, levados a cabo por pessoas diferentes, em lugares diferentes, e que trabalhavam independentemente umas das outras. Entre elas destacam-se William Stanley Jevons, na Inglaterra, Carl Menger, na Áustria, e Léon Walras, na Suíça. Nascia, nas pessoas desses três grandes nomes, o que se tornou conhecido como a Escola Marginalista em três ramificações: Escola de Cambridge, Escola Austríaca e Escola de Lausanne, respectivamente.
Embora reconhecendo a existência de problemas sociais não resolvidos em mais de um século de predomínio das idéias clássicas na organização econômica dos principais países da Europa, os marginalistas discordavam dos socialistas em geral - e dos marxistas em particular - sobre a melhor forma de solucionar esses problemas. Tinham, no entanto, uma certeza: não deveria ser através da modificação da estrutura de produção capitalista, que consagrava os princípios liberais clássicos da propriedade privada, da livre iniciativa e da busca incessante do lucro. Afinal, o próprio Marx reconhecera a eficiência disso ao afirmar que "durante pouco mais de cem anos em que se encontra no poder, a burguesia (e o capitalismo) criou forças produtivas mais sólidas e colossais do que todas as gerações anteriores juntas".
Vindo, portanto, em defesa dos princípios clássicos na época tão combatidos pelos socialistas, os marginalistas dessa primeira geração fizeram a apologia do laissez-faire e foram responsáveis por algumas contribuições notáveis para a evolução da teoria econômica, entre as quais merecem destaque, segundo Oser e Blanchfield:
Os marginalistas concentravam sua atenção sobre a margem - o ponto de mudança em que se baseiam as decisões - para explicar os fenômenos econômicos. Estenderam a toda teoria econômica o princípio marginal que Ricardo desenvolveu em sua teoria da renda.
A abordagem marginalista era predominantemente microeconômica, na qual a tomada de decisão do agente econômico individual - seja uma pessoa física ou uma empresa - assumia importância central. Isso significa a retomada da tradição liberal da análise econômica, e se contrapõe frontalmente à análise marxista que tem por foco central as relações de classes.
Os marginalistas tomavam por base um sistema econômico baseado na concorrência perfeita (considerando, ocasionalmente, o monopólio absoluto como extremo oposto). Foram, com exceção da corrente austríaca, responsáveis pela forte expansão do uso de métodos quantitativos na construção de seus modelos de análise, que pretendiam ser uma abstração da realidade. Nesses modelos, o cenário dominante era constituído de um grande número de empresários pequenos e médios, que agiam independentemente, existindo muitos compradores, muitos vendedores, produtos homogêneos, preços uniformes, e sem influência da propaganda.
A demanda torna-se a força primária para a determinação de preços. Ela, por sua vez, depende da utilidade marginal, que é um fenômeno psíquico. Portanto, a economia tornou-se subjetiva e psicológica. Supunham que as pessoas seriam racionais quanto ao equilíbrio de prazeres e desprazeres, ao medirem as utilidades marginais de bens diferentes e ao equilibrarem necessidades presentes e futuras. Sua abordagem era hedonista, supondo que os estímulos dominantes na tomada de decisão de qualquer agente econômico ocorrem no sentido de maximizar o prazer e/ou minimizar o desprazer.

Principais contribuições de Marshall.
Fica muito difícil reduzir a extraordinária contribuição de Marshall num texto com as características destes das Iscas Intelectuais. Nesse sentido, o que procurarei fazer a seguir é uma síntese daquelas que considero suas mais relevantes contribuições para a evolução da teoria econômica e da história do pensamento econômico.

Economics X Political Economy
Todos os textos de Economia anteriores a Marshall referem-se à matéria tratando-a de "economia política" (political economy). Marshall, embora se opusesse ao conceito de homo economicus, por considerá-lo excessivamente simplificador, e procure considerar o indivíduo enquanto agente econômico sempre inserido num determinado contexto sociocultural, abandonou essa denominação e passou a se utilizar da expressão "economia" (economics).
Nesse sentido, como afirma Ricardo Feijó, Marshall representou um marco institucional na história da moderna Economia. Introduziu o nome Economics em substituição ao anterior Political economy, para designar o novo estilo de se fazer ciência econômica; fundou o primeiro curso especializado de Economia e seu livro de 1890, Princípios de economia, foi o principal manual dessa disciplina por mais de 30 anos.
De fato, ainda segundo Ricardo Feijó, antes de Marshall, em Cambridge a Economia era ensinada apenas como parte das ciências históricas e morais, e não era objeto de trabalhos mais avançados. Marshall fez da Economia uma profissão. Durante muitos anos ele lutou, nem sempre com sucesso, para ampliar o âmbito da Economia, e só em 1903 inaugurou-se um novo curso especializado em Economia, o primeiro curso exclusivamente dedicado à formação do profissional nesse campo de que se tem notícia (Na verdade, a nova escola de Economia de Cambridge intitula-se "Economia e Política", conservando esse nome até hoje. Como indica o nome da escola, trata-se de especialização também em Ciências Políticas). Com ele, tal ciência (a Economia) adquire o status de saber autônomo cientificamente qualificado, uma área técnica repleta de conceitos não acessíveis ao não iniciado.

Uma visão dotada de enorme preocupação social
Embora os marginalistas e os neoclássicos, pelo fato de se contraporem às reformas propostas pelos socialistas, tenham ficado com a imagem de reacionários ou conservadores, fica difícil admitir tal imagem como válida quando se conhece não só como Marshall concebia a economia, mas também quando se observa qual deveria ser, na sua opinião, a principal preocupação do estudo da economia. Sua definição de economia mostra a caráter pragmático de como ele a entendia:
A economia é um estudo da humanidade na atividade comum da vida; ela examina a parte da ação individual e social que está mais intimamente ligada aos resultados e ao uso dos requisitos materiais do bem-estar. Sua preocupação com as questões sociais de uma forma geral - e com a pobreza em particular - é constante, como se observa na Introdução de sua obra magna, Princípios de economia, na coleção Os Economistas, escrita por Ottolmy Strauch:
Marshall passou então a preocupar-se com a questão social sendo levado à "percepção de que a pobreza estava na raiz de muitos males sociais", o que acabou conduzindo-o ao estudo da Economia. Matéria para a qual, como muitos dos grandes economistas contemporâneos, nunca fez curso universitário regular e especializado, já que na época a matéria não existia senão como apêndice ou complemento de outros cursos, tal qual como no Brasil de algumas décadas atrás. Segundo a sua convicção, que manteve inalterada pela vida inteira, o problema da pobreza era não somente fundamental para a Economia, como a sua própria razão de ser. Como ele próprio viria mais tarde a dizer nos Princípios: "o estudo das causas da pobreza é o estudo das causas da degradação de uma grande parte da humanidade".

Ênfase na educação
Outro aspecto que vem reforçar o elevado grau de preocupação social de Marshall é a maneira enfática como ele se referiu à importância da educação para a redução das desigualdades sociais e, por extensão, para o crescimento econômico de qualquer país, como fica claro na epígrafe de um dos livros menos conhecidos do Prof. Eduardo Giannetti, Liberalismo X Pobreza: "O mais valioso de todos os capitais é aquele investido em seres humanos". Nesse livro, Giannetti chama a atenção para um aspecto normalmente ignorado por todos os que se opõem à visão econômica liberal, qual seja, sua elevada preocupação com a educação.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada total e pelo menos parcialmente provida pelo Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação popular seria uma resposta muito mais eficaz do que a "Poor Law" no combate ao pauperismo. Porém, dentre todos os autores da tradição liberal iniciada com os clássicos e continuada pelos marginalistas e neoclássicos que mostraram preocupação com a educação, foi Marshall, segundo Giannetti, quem mais se destacou nesse aspecto:
Entre os economistas ingleses na tradição liberal-utilitária, foi, sem dúvida, Alfred Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da formação de capital humano - do investimento na qualidade da força de trabalho - para um programa de reforma social eficaz, voltado para a emancipação da pobreza e a promoção do desenvolvimento econômico.
Os dois trechos citados a seguir ilustram com impressionante clareza essa enorme preocupação com que Marshall analisava a importância do investimento em educação para o desenvolvimento de uma nação. O primeiro retrata o enorme desperdício humano e econômico da sociedade inglesa do começo do século XX, o qual, como bem observa Giannetti, não difere muito da situação latino-americana e brasileira da atualidade:
Nas camadas mais baixas da população, o mal é grande. Pois os parcos meios e educação dos pais e sua relativa incapacidade de antever, com um mínimo de realismo, o futuro impede-nos de investir capital na educação e treinamento dos seus filhos, com a mesma liberalidade e audácia com que o capital é aplicado no aprimoramento da maquinaria de qualquer fábrica bem administrada (...) Por fim, eles, os filhos de pais pobres, vão para o túmulo carregando consigo aptidões e habilidades que jamais foram despertas. Aptidões, que, se tivessem podido dar frutos, teriam adicionado à riqueza material do pais - para não falarmos em considerações mais elevadas - diversas vezes mais do que teria sido necessário para cobrir as despesas de prover oportunidades adequadas para o seu desenvolvimento (...) Mas o ponto sobre o qual devemos insistir agora é que o mal tem caráter cumulativo. Quanto pior a alimentação das crianças de uma geração, menos irão ganhar quando crescerem e menores serão seus poderes de prover adequadamente as necessidades materiais de seus filhos e assim por diante nas gerações seguintes. E, ainda, quanto menos suas próprias faculdades se desenvolvam, tanto menos compreenderão a importância de desenvolver as melhores faculdades de seus filhos e menor será sua capacidade de fazê-lo.
O segundo reforça o caráter cumulativo do desperdício mencionado no trecho anterior e dá ênfase à importância da concentração da maior parte do investimento em capital humano na educação básica da massa da população:
Não existe extravagância mais prejudicial ao crescimento da riqueza nacional do que aquela negligência esbanjadora que permite que uma criança bem-dotada, que nasça de pais destituídos, consuma sua vida em trabalhos manuais de baixo nível. Nenhuma mudança favoreceria tanto a um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma melhoria das nossas escolas, especialmente aquelas de grau médio, desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de estudo, permitindo, assim, ao filho inteligente de um trabalhador simples que ele suba gradualmente, de escola em escola, até conseguir obter a melhor educação teórica e prática que nossa época pode oferecer.

Incorporação da Matemática na Economia
Com sua sólida formação em Matemática, Marshall deu enorme contribuição para a incorporação de métodos quantitativos à análise econômica, vale dizer, a utilização sistemática de equações matemáticas, gráficos e diagramas numéricos. Com isso, prestou relevante serviço no sentido de dar mais credibilidade à Economia perante a comunidade científica. Na época - final do século XIX - o critério da verificabilidade era predominante para que uma dada teoria fosse reconhecida como científica, isto é, só eram aceitas como científicas as proposições ou hipóteses que pudessem ser verificadas (comprovadas) por meio de medição, demonstração matemática ou experiência laboratorial. Nesse sentido, ao "traduzir" a teoria econômica para a linguagem matemática, a contribuição de Marshall para que a Economia fosse aceita como uma ciência foi fundamental.
Na verdade, essa incorporação da Matemática à teoria econômica foi conseqüência natural do amplo conhecimento que Marshall possuía do assunto, como bem descreve Ottolmy Strauch:
Tal como seu contemporâneo Karl Marx, Marshall passou da Filosofia para a Economia, só que no seu caso foi pela via matemática. Descrevendo sua passagem para a Economia, recordava ele já no final da vida: "Da Metafísica fui para a Ética, e achei que a justificativa das condições existentes da sociedade não era fácil". Um amigo, com quem discutia questões sociais, retrucou-lhe um dia: "Você não diria isso se soubesse Economia". Sua iniciação no campo econômico processou-se, segundo ele próprio, da seguinte forma: "Minha familiarização com a Economia começou com a leitura de Mill, enquanto ainda estava ganhando minha vida ensinando Matemática em Cambridge, e traduzindo suas concepções em equações diferenciais até onde pudesse ir, e, em regra, rejeitando aquelas que a isso não se prestassem... Isso foi, principalmente, em 1867/68". "Enquanto estava dando aulas particulares de Matemática, traduzi o quanto possível os raciocínios de Ricardo para a Matemática e empenhei-me em torná-los mais gerais".
Muitos historiadores do pensamento econômico, entre os quais Araújo, Brue e Feijó, fazem questão de ressaltar que apesar de seu extraordinário domínio da Matemática e da incorporação da mesma à teoria econômica - para desespero de muitos estudantes -, Marshall jamais deixou que a Matemática se sobrepusesse à preocupação social básica da Economia. Ao contrário, utilizou-a como um importante instrumento analítico e metodológico, mas se opôs ao seu uso abusivo na Economia, tanto é verdade que colocou quase todos os gráficos e diagramas nos rodapés e apêndices de suas obras. Essa consciência sobre o papel assessório da Matemática fica clara numa famosa carta em que relata sua experiência pessoal com a mesma, onde escreve: "Um bom teorema matemático relativo a hipóteses econômicas é altamente improvável de ser boa Economia".
Tal idéia fica ainda mais reforçada num dos trechos mais reproduzidos de sua autoria:
Um bom teorema matemático que aborde hipóteses econômicas dificilmente será boa economia; e creio cada vez mais nas seguintes regras: 1) Use a matemática como abreviação e não como método de pesquisa. 2) Utilize-a até ter terminado. 3) Traduza para o inglês. 4) Ilustre, então, com exemplos importantes da vida real. 5) Queime a matemática. 6) Se não conseguir realizar a 4, então queime a 3.

Valor
Durante muito tempo a determinação do valor de um bem ou serviço enfatizou o lado da oferta - o custo de produção - como único determinante do valor. Essa idéia se consolidou com David Ricardo, na Escola Clássica, tornando-se conhecida como a teoria do valor trabalho, segundo a qual o valor de um bem decorre da quantidade de trabalho necessário à sua produção. Essa idéia foi posteriormente aproveitada por Marx, que dela partiu para desenvolver a teoria da exploração (mais-valia).
Os primeiros marginalistas, como observam Oser e Blanchfield, voltaram-se para o extremo oposto e enfatizaram a procura, excluindo completamente a oferta. Para eles o valor de um bem era determinado pela utilidade que esse bem proporcionava a uma pessoa, idéia que se tornou conhecida como teoria do valor utilidade. Ao contrário do que ocorria com a teoria do valor trabalho, para a qual o valor era algo objetivo, medido pelo número de horas incorridas na produção de um determinado bem ou serviço, o valor para os marginalisas tornou-se subjetivo, uma vez que a utilidade proporcionada por um determinado bem ou serviço variava de pessoa para pessoa.
Marshall sintetizou as duas visões sobre a determinação do valor de um bem ou serviço, a baseada na oferta e a baseada na procura, naquilo que pode ser chamado de economia neoclássica. Assim, segundo Oser e Blanchfield, a economia neoclássica pode ser vista como "o marginalismo com um reconhecimento sensato da contribuição remanescente da Escola Clássica".
Ottolmy Strauch também destacou esse aspecto na Introdução dos Princípios de economia da coleção Os Economistas:
Justamente numa época em que a controvertida teoria do valor dividia os economistas em posições irreconciliáveis, Marshall conseguiu, graças principalmente à introdução do elemento tempo como fator na análise, reconciliar o princípio clássico do custo de produção com o princípio da utilidade marginal, atribuído à escola austríaca (Menger), Walras e Jevons mas que, diz Marshall, lhe foi inspirado por Von Thünen. "Ao introduzir o fator tempo na análise econômica pela distinção entre curtos e longos períodos, ele procurou, com efeito, determinar o papel do custo objetivo de produção (longos períodos) e o da utilidade marginal (períodos curtos) na determinação do valor dos bens e serviços".

Equilíbrio parcial
Outra grande contribuição de Marshall refere-se à noção de equilíbrio parcial. Até então, as análises desenvolvidas a esse respeito consideravam a idéia de equilíbrio geral, sendo Walras reconhecido como um dos maiores - senão o maior - especialistas no assunto.
De acordo com Ottolmy Strauch, o método de "análise parcial" ou "análise de equilíbrio parcial", também chamada de abordagem de Ceteris paribus (iguais às demais coisas, isto é, sem que haja modificação de outras características ou circunstâncias) é das mais famosas e, belas, controvertidas contribuições de Marshall. Consiste, essencialmente, em compartimentar a economia de modo que os principais efeitos de uma mudança de parâmetro num determinado minimercado possam ser ressaltados sem considerar os efeitos colaterais em outros mercados, inclusive as reações, ou feedback destes.
Oser e Blanchfield também se referem a essa contribuição considerando que a mesma contribui para tornar a análise econômica mais útil e seus resultados mais realistas:
O método de análise parcial pode ser justificado com base no fato de que nos permite investigar os diversos estágios de fenômenos complexos. Consideramos a mudança de uma variável de cada vez, supondo que o restante permaneça constante. Os problemas de nossa sociedade terrivelmente complicada com suas inúmeras variáveis podem, com isso, ser simplificados e pesquisados de maneira ordenada e sistemática. À medida que introduzimos variáveis sucessivas, aproximamo-nos de situações mais realistas. Supor que o restante permanece constante, exceto o fator que permitimos variar, é uma técnica empregada durante todo o tempo. Se afirmarmos "vou ao cinema esta noite", estamos implicitamente fazendo centenas de suposições sobre outras circunstâncias que não deverão mudar inesperadamente. Por exemplo, estamos supondo que não quebraremos uma perna ou morreremos do coração durante o dia; que o cinema não pegará fogo; que uma enchente ou um terremoto não bloqueará a entrada para a cidade; que não surgirá nada mais interessante para fazer à noite.

O legado de Marshall e da Escola Neoclássica
Considerando que a Escola Neoclássica foi uma extensão da Escola Marginalista, pode-se afirmar que sua influência permanece acentuada na Economia até os dias de hoje, uma vez que gerações sucessivas têm contribuído para o aperfeiçoamento e a atualização de suas diversas ramificações.
A Escola de Cambridge, que teve início com Jevons e teve continuidade com Marshall, seguiu depois com importantes economistas, destacando-se entre eles A. C. Pigou. A Escola Austríaca, iniciada com Menger, teve depois von Wieser, Bohn-Bawerk, Ludwig von Mises e Friedrich Hayek (ganhador do Prêmio Nobel em 1974). Já a Escola de Lausanne, iniciada com Walras, teve em Vilfredo Pareto seu principal seguidor.
Dentre as ramificações posteriores, pode-se assinalar também a vertente que se tornou conhecida como economia monetária (ou monetarista), aí se destacando John Gustav Knut Wicksell, Irving Fisher, Ralph George Hawtrey e Milton Fridman (ganhador do Prêmio Nobel em 1976). Pode-se identificar ainda o vasto desenvolvimento da economia matemática (econometria) como uma conseqüência da influência da Escola Neoclássica, assim como os progressos mais recentes no campo da teoria dos jogos.
Mas duas das maiores preocupações de Alfred Marshall continuam sendo não apenas atuais, mas seguem ainda dando muita dor de cabeça aos economistas contemporâneos. Uma delas, o combate à pobreza, continua gerando muitas discordâncias e, em muitas partes do mundo, as políticas econômicas levadas a cabo com esse objetivo apresentaram resultados pífios. Vale a pena, a esse respeito, dar uma lida no artigo Receita para combater a pobreza ainda é um mistério para os economistas, de autoria de Davis Wessel e reproduzida em O Estado de S. Paulo em janeiro passado.
A outra, sobre a importância econômica da educação, segue inspirando renomados economistas contemporâneos, entre os quais os laureados com o Nobel de Economia, Theodore W Schultz (1979), Gary Becker (1992) e James Heckman (2000).
A divisão entre Polytical Economy e Economics permanece também dando margem a acalorados debates e muitas trocas de farpas. Nas reuniões anuais da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (ANPEC), costumam haver sessões separadas da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e da Sociedade Brasileira de Econometria (SBE). Os adeptos de cada uma dessas associações costumam dizer que o que se faz na outra não é, propriamente, economia!
Referências e indicações bibliográficas

AVENA, Armando. Marx e Marshall: uma entrevista com Deus. Em A última tentação de Marx. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, pp. 23 - 31.

BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Coleção Tudo é História, 52)

BUCHHOLZ, Todd G. Alfred Marshall e o pensamento marginalista , capítulo VII de Novas idéias de economistas mortos. Tradução de Luiz Guilherme Chaves e Regina Bhering. Rio de Janeiro: Record, 2000, pp. 173 - 203.

CANAVAN, Bernard. Economistas para principiantes. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1983.

GIANNETTI, Eduardo. Liberalismo X Pobreza. São Paulo: Inconfidentes, 1989.

MARSHALL, Alfred. Princípios de economia: tratado introdutório. Tradução revista de Rômulo de Almeida e Ottolmy Strauch. Introdução de Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Os Economistas)

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

WESSEL, David. Receita para combater a pobreza ainda é um enigma para os economistas. The Wall Street Journal Américas. O Estado de S. Paulo, 11 de janeiro de 2007, p. B10.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A maior banda de “Power Metal” de todos os tempos (nascida na Filândia, hoje reconhecida no mundo)

No ano de 1996 Tony Kakko (vocais e teclado) e Pentti Peura (baixo) entraram na banda que inicialmente se chamava Tricky Beans. Com esse nome e essa formação eles gravaram três demos, Friend 'till the End, Agre Pamppers e PeaceMaker. Na época, o estilo da banda era voltado para o Hard Rock, e tinha poucas semelhanças com o Power Metal que os tornou conhecidos.
Logo no ano de 1997 começaram as mudanças. Primeiramente no nome, que agora era Tricky Means. Depois, o baixista Pentti Peura deixou a banda, e pra completar, o grupo começou a procurar um estilo próprio, um gênero que favorecesse a harmonia entre os teclados e a voz limpa de Tony Kakko. Eles ficaram até 1999 procurando esse estilo, e quando acharam foi lançada a demo "Fullmoon". Mas antes disso, ainda em 1998, Janne Kivilahti fora chamado para ocupar a vaga de baixista da banda, substituindo Penti Peura.
A demo "Fullmoon" foi enviada para a gravadora Spinefarm Records, que se interessou pelo som deles e os contratou. Então a banda mudou de nome novamente, vindo a se chamar Sonata Arctica, e em setembro de 1999, lançou seu primeiro álbum, Ecliptica. O álbum apresenta as novas e melhoradas versões das canções que fizeram parte da demo lançada em 1999.
Em 2000, Tony Kakko, que cantava e tocava teclado, decidiu se focar apenas nos vocais e chamou Mikko Härkin para ser o novo tecladista da banda. Ainda em 2000, o Sonata Arctica abriu os shows dos veteranos do Stratovarius na sua turnê européia. Em outubro do mesmo ano a banda lança o EP Successor, que contém covers de bandas como Helloween e Scorpions, além de uma versão editada de "Fullmoon", versões lives e duas músicas inéditas, "Shy" e a primeira versão de "San Sebastian". E pra completar o ano, depois da turnê e do EP, o baixista Janne Kivilahti deixou a banda, cedendo seu lugar para Marko Paasikoski, o mesmo que anos antes tinha fundado a banda junto com Jani e Tommy, mas que agora em vez de guitarra estava tocando baixo.
2001 foi o ano escolhido para o lançamento do segundo EP e do segundo álbum da banda. Orientation é o segundo EP do Sonata Arctica e marca a estréia de Marko Paasikoski na banda. O EP apresenta a faixa "Black Sheep", uma versão acústica de "Mary-lou", covers de Iron Maiden e Bette Midler, o vídeo de "Wolf And Raven" e uma entrevista.
Já Silence, é o segundo álbum da banda. O disco é um pouco mais pesado e obscuro que seu antecessor.
Depois do lançamento de Silence, o Sonata Arctica começou uma longa turnê com o Gamma Ray e excursionou pela Europa e pelo Japão, onde gravou o live Songs of Silence, lançado em 2002, e naquele mesmo ano, a banda veio pela primeira vez a América do Sul, passando pelo Chile e pelo Brasil.
Depois do fim da turnê e do lançamento do álbum ao vivo, o grupo retornou ao estúdio, mas, no final de 2002, por motivos pessoais, o tecladista Mikko Härkin deixou a banda.
Em 2003, o terceiro álbum da banda foi lançado. Winterheart's Guild foi gravado com a ajuda de Jens Johasson, tecladista da banda Stratovarius, que dividiu os teclados com Tony Kakko. Enquanto Tony fazia as bases, Jens solava.
Depois da saída de Mikko, a banda estava a procura de um novo tecladista. Fizeram várias audições com vários músicos, e por fim sobraram apenas dois, que tinham o mesmo nível. Como não sabiam qual escolher, decidiram que o novo tecladista ia ser escolhido por sua personalidade, então resolveram sair uma noite para beber com cada um deles, no final Henrik Klingenberg, ou simplesmente "Henkka" foi escolhido, e continua na banda até hoje. No mesmo ano a banda lançou seu terceiro EP, o Takatalvi, que contém covers do Metallica, Scorpions e Helloween, duas novas músicas e novamente conta com "Shy" e a versão original de "San Sebastian".
Em 2004, o Sonata Arctica abriu os shows do Iron Maiden na sua turnê japonesa e depois que o contrato da banda com a Spinefarm Records acabou, eles assinaram com a Nuclear Blast que já começou lançando o quarto EP da banda, o Don't Say a Word, lançado em agosto. A estréia de Henkka na banda foi uma prévia do próximo álbum, o Reckoning Night. Duas das 4 músicas do EP estão contidas no novo álbum que foi lançado em outubro do mesmo ano. A banda faria a turnê de divulgação de seu álbum, mas foi convidada pelo Nightwish para os acompanhar em sua turnê britânica, onde a banda fazia shows para em média 10.000 pessoas.
No começo de 2005, Nightwish convidou a banda para abrir os concertos da turnê americana. Essa turnê foi cancelada, mas o membros do Sonata optaram por fazer uma pequena turnê com concertos nos EUA e Canadá. Ainda em 2005, o grupo lançou sua primeira coletânea, intitulada The End of This Chapter, que reúne sucessos de todos os CDs do grupo, incluindo também faixas bônus com versões acústicas. Chega o ano de 2006, e o Sonata Arctica lança o seu segundo álbum ao vivo, o For the Sake of Revenge, que tinha sido gravado em 2005, na casa de shows Shibuya AX, em Tóquio.
No final de 2006 o grupo lança sua segunda coletânea, The Collection, que também apresenta faixas de todos os discos e novas versões.
Em 2007 é lançado o álbum Unia. Em agosto do mesmo ano, o guitarrista Jani Liimatainen anunciava sua saída da banda, sendo substituído por Elias Viljanen.
No ano de 2008, a banda lança as versões remasterizadas dos clássicos Ecliptica e Silence, e toca pela segunda vez no Brasil, fazendo shows em Curitiba e em São Paulo. Em 2009 sai o The Days of Grays, mais recente álbum de inéditas do grupo.

Apocalípticos e integrados - Umberto Eco

Em “Apocalípticos e Integrados”, o autor do livro Umberto Eco propunha, em seu prefácio, a divisão nas categorias que davam título à obra relativamente às reações face à cultura de massa e a indústria cultural. De um lado, os que consideravam que a massificação da produção e consumo constituíam a perda da essência da criação artística, da aura e, do outro, os que acreditavam estar-se perante enormes avanços civilizacionais, de uma efetiva e criadora democratização da cultura.
Apocalípticos e integrados são dois termos de definição "genérica" e "polêmica", como bem definiu o autor. As duas palavras "fetiches", nomeadas pelo autor, servem para designar as correntes teóricas: os Críticos de Frankfurt e os funcionalistas. Fetiches porque, segundo Eco, "bloqueiam o discurso", pois em alguns casos incorrem em discussões polêmicas e evasivas. Para ele, os teóricos das duas correntes se diferenciam pela contestação e o questionamento. "O apocalipse é uma obsessão do dissenter, a integração é a realidade concreta dos que não dissentem".
O apocalíptico, seguindo o pensamento de Eco, sobrevive de confeccionar teorias sobre a decadência da sociedade em função da indústria cultural e da cultura de massa. No entanto, esses mesmos teóricos críticos utilizam para difundir suas idéias os próprios canais e meios alienadores da sociedade.
"No fundo, o apocalíptico consola o leitor porque lhe permite entrever, sob o derrocar da catástrofe, a existência de uma comunidade de 'super-homens', capazes de se elevarem, nem que seja apenas através da recusa, acima da banalidade média", acrescenta Eco.
Contudo, Eco considera muito importante a crítica dos teóricos de Frankfurt aos funcionalistas, sobre o aspecto de que estes só vêem a cultura de massa e a indústria cultural de forma positiva, para assim se "embebedarem" no lucro da produção contínua da sociedade.
Os integrados, em analogia metafórica aos funcionalistas, "raramente teorizam e assim, mais facilmente, operam, produzem, emitem as suas mensagens cotidianamente a todos os níveis", diz Eco. Ou seja, de acordo com as concepções teóricas de Eco podemos deduzir que os funcionalistas não estão preocupados com a crítica das ações, mas sim com a praticidade e a funcionalidade do sistema social.
Na verdade, a grande preocupação do funcionalista é que a engrenagem social movida por cada indivíduo e as instituições sociais esteja produzindo constantemente sem erros e falhas. Porém, existe aí uma dose exacerbada de positivismo dos funcionalistas, pois mesmo criticando a própria crítica dos Críticos de Frankfurt, Eco vê a pertinência da contestação dos estudiosos alemães no aspecto de que os funcionalistas pretendem emergir a sociedade na alienação para a condução manipulada de suas funções.
Segundo escreveu Eco, "para o integrado, não existe o problema de essa cultura (popular) sair de baixo ou vir confeccionada de cima para consumidores indefesos", pois a sua pretensão é conduzir a sociedade para à massificação e conseqüentemente tirar proveito com o lucro dessa alienação.
Quarenta anos decorridos, o texto de Eco regressa à memória em face de duas notícias de ontem: por um lado, a quebra brutal das vendas de CD e DVD musicais em benefício dos downloads da internet, por outro, uma crescente diminuição da leitura de jornais nas camadas mais jovens, igualmente em benefício do recurso à rede.
A primeira coisa a sublinhar é que nenhuma das situações parece refletir uma diminuição de interesse pelos conteúdos, seja a música, seja a informação. No tocante à primeira é mesmo de admitir que esta mudança determine um aumento de consumo, sendo previsível que idêntico percurso seja seguido na segunda. Contudo, é inquestionável que a diferença de suportes determina inevitavelmente diferenças no que é transmitido e consumido.
O download tende a determinar um efetivo empobrecimento do fenômeno musical, reduzido a si próprio, quase sempre sem qualquer informação complementar associada. Nomeadamente no caso do CD, a capa e as informações nela contidas têm um evidente papel na fruição musical e, sobretudo, na criação de uma real cultura e gosto de audição.
A generalização do consumo musical nas sociedades contemporâneas é indissociável da aquisição de elementos informativos sobre a música, os seus criadores e executantes, o enquadramento histórico, estilístico e estético das obras fornecido, em maior ou menor grau, pelos textos e imagens da literatura que acompanha a edição discográfica.

“Os Benefícios da Cultura de Massa”

Perspectiva integradora da Cultura de Massa
A cultura de massa representa a maior abrangência de pessoas envolvidas. Nesse sentido, é a forma de cultura absolutamente predominante em que jornais, revistas, rádio, cinema, tv, etc., polarizam a atenção das grandes massas, ocupando, vorazmente, todos os espaços que a informação elitizada, ou as manifestações populares poderiam pretender. Mas, exatamente por esse caráter, a cultura de massa constitui-se num enorme desafio para todos, à medida que se caracteriza por inúmeras propriedades que contrastam com a idéia de baixo custo e alto benefício na cultura.
Nas décadas de 1920 e 1930 começaram os estudos e a avaliação da cultura popular. Os fenômenos marcantes foram o advento do cinema, do rádio, a produção e o consumo em massa, a ascensão do fascismo e o amadurecimento das democracias liberais em alguns países. O fato de a cultura tornar-se reproduzida infinitamente, graças aos desenvolvimentos tecnológicos, que gradativamente trouxe benefícios consideráveis na sociedade. Todos podem ter acesso a essa cultura democrática, antes vista como cultura “elitista”, de poucos.
Por outro lado, os pensadores da cultura de massa não consideram o cinema como arte, pois no seu processo de elaboração e exibição, o filme não possui a "aura" de uma obra de arte autêntica. Mas o cinema reconfigura uma nova visão de mundo perante a sociedade, que podem cultuar e ter a sensação diante da inovação do cinema, obviamente feito pra todos.
A mídia encoraja a uma visão acrítica e passiva do mundo, porque ao nível de conteúdo, dão grande informação sobre o presente, "entorpecendo" qualquer consciência histórica. Ela tende a provocar emoções em vez de a representarem; em vez de sugerirem uma emoção entregam-na já confeccionada. Mas a grande acumulação de informação não resulta em apatismo, mas sim em formação, porque a variedade de informação sensibiliza o homem perante o mundo.
O erro dos apocalípticos-aristocratas é o de pensarem que a cultura de massas seja radicalmente má precisamente porque é um produto industrial, e que hoje possa acontecer uma cultura que se subtraia ao condicionalismo industrial
A indústria cultural tende a desenvolver uma oferta de produtos para públicos diferenciados, logo, a disputa pelos públicos consumidores pode abrir lugar à inovação. Da mesma forma, a natureza diferenciada das indústrias culturais constitui um fator de relativização dos efeitos massificadores que lhes podem ser imputados.
Outro dilema importante, também referido é o dos interesses culturais versus interesses econômicos. A inovação e a criação original é quase sempre uma ameaça financeira a evitar - caso dos produtores independentes e suas dificuldades financeiras. Por outro lado, há penetração do capital na produção, circulação e consumo cultural. Este processo organiza-se segundo um jogo com duas lógicas contrárias: reprodutibilidade capitalista e raridade da obra. O trabalho cultural ao ser inserido no processo da Indústria Cultural transforma-se em trabalho coletivo. Por isso, continua a ser valorizado segundo o ideal do criador e princípio da raridade.
Na perspectiva dos Integrados, estes defendem que estamos a viver, com a cultura de massas, uma época de alargamento da área cultural - de democratização cultural. A TV, o jornal, a rádio, o cinema, a banda desenhada, são meios de comunicação que colocam os bens culturais à disposição de todos.
Estamos vivendo na era da Informação, em um mundo onde aprendemos, gradativamente, a encurtar as distâncias e a redimensionar o tempo. O cotidiano das pessoas está, continuamente, sendo transformado com a incorporação de produtos que permitem a comunicação com qualquer parte do planeta.
Através da televisão as pessoas recebem as notícias, em tempo real, do que está acontecendo ao redor do globo terrestre; pelo telefone, principalmente, e pela internet, são enviadas mensagens, possibilitando a interação com quem está do outro lado da linha. E essas experiências de "viagens sem sair de casa", vão abrindo os horizontes e criando intercâmbios e trocas que beneficiam o modo de vida das pessoas.
Hoje, os acontecimentos locais sofrem a influência de algo vivenciado por povos do outro lado do mundo. Através desses estímulos, a viagem televisiva vai tomando forma por meio dos devaneios que fazem crescer a expectativa quanto à realização do desejo de conhecer outros lugares, outras gentes, outras culturas.

“Good Copy, Bad Copy” - Pirataria: Modificando as Relações de Produção

O documentário “Good Copy, Bad Copy” - dirigido pelos dinamarqueses Andreas Johnsen, Ralf Christensen e Henrik Moltke - revela como as pessoas ao redor do mundo têm se colocado diante da questão direitos autorais, através do desrespeito deliberado das leis desses direitos e da formação de grupos e até partidos políticos que requerem mudanças nessas leis. Para a maior parte delas “as leis atuais estão inibindo o fluxo de criatividade” e o “Copyright é uma forma de prevenir que a sociedade se torne produtora de cultura”.
Transformar um tempo em que as possibilidades artísticas estão esgotadas requer mais do que uma revolução criativa. Uma vez que a replicação e a reapropriação de informação alheia fazem parte dessa revolução, na forma de sampling, mashups e P2P, a transformação exige também o ingresso nas frentes de batalha pela cultura livre e pela partilha de conteúdos.
“Good Copy, Bad Copy” é debate sobre direitos autorais e cultura. O filme retrata a atualidade do tema e as controvérsias geradas pelas novas tecnologias. Um dos focos é a não compatibilidade dos formatos considerados padrão e o perfil dos consumidores de cultura nos dias atuais. Foi realizado na Dinamarca e exibido na emissora local DR2.
A Indústria do Entretenimento ainda não sabe como lidar com a nova cultura de reprodução. Ou não quer. Como discutido em sala de aula, o impacto do atual modo de produção artística para quem já tem um modelo constituído no mercado é muito grande e ao longo do processo da democratização de informação, novos atores serão incluídos e outros excluídos. A opção tomada pela indústria para manter sua posição no mercado é a de pressionar através das ferramentas disponíveis no meio jurídico. E na medida em que a indústria sente que não existe alternativa que não seja se adaptar, ela continua a usar as leis para impor um novo modelo de negócios.
O filme vai questionando justamente as principais frentes de batalha pela cultura livre e a partilha de conteúdos como Estados Unidos, Suécia e Brasil. Entre os entrevistados destacam-se os mashupers Girl Talk e Danger Mouse, John Buckman da netlabel comercial Magnatune, Anakata e Tiamo do Pirate Bay, Lawrence Lessig e Siva Vaidhyanathan.
Numa perspectiva mais sociológica clássica, filmes como “Good Copy, Bad Copy” não seriam exibidos dentro dessa temática. O conceito de revolução convencional fala de transformações nas estruturas de poder de uma sociedade.
Durante muito tempo a “revolução” designava os movimentos bruscos dos astros, que passeavam pela galáxia indiscriminadamente provocando desespero nos primeiros pensadores que tentavam entender o seu funcionamento. Logo depois foram orientados sobre a mudança no conceito de revolução ocorrida após a queda da bastilha em 1789. De uma explicação da mudança dos astros para uma mudança brusca nas estruturas de poder de uma sociedade, uma revolta, uma reorganização da vida orientada por ideais iluministas.
Um olhar mais atento perceberá a revolução apresentada no documentário de Andreas Johnsen, Ralf Christensen e Henrik Moltke. Uma revolução que mexe sim com as estruturas de poder. Do poder de criar e veicular a criação livre dos autoritarismos presentes nas leis de direitos autorais.
O que "todo mundo" pensa hoje sobre as possibilidades de construção colaborativa do conhecimento, da arte, das tecnologias? No decorrer do documentário, muitas pessoas apresentam seus pontos de vista sobre criatividade, propriedade intelectual, compartilhamento pela internet etc. Aparecem tanto os ciberativistas quanto os defensores da indústria cultural que alega ter prejuízos com a nova indústria cultural. Termos como sampler, download, upload, bit torrent, creative commons ('criei tive como', em português do Brasil!), copyleft (em oposição direta ao copyright), entre outros, são recorrentes em todo o documentário. Tais termos indicam que há algo acontecendo de novo no mundo da criação artística. Brotam reclamações, processos, cancelamento de sítios eletrônicos, fechamento de provedores de internet, por todos os lados. É certo que isso está incomodando.
Chamam de “pirataria”. Um dos sujeitos que aparece no filme, representante de Hollywood, chega a definir o conceito: segundo ele, “pirataria é a apropriação inautorizada e sem compensação de propriedade intelectual”. O DJ Girl Talk defende-se com uma pergunta provocativa: “porque perseguir alguém que claramente só está tentando fazer música?” O fio condutor do filme é uma discussão sobre a construção colaborativa do conhecimento, o que certamente incomoda os interesses de quem ganha com a privatização dos saberes.
O que entendemos por criatividade? A constituição dos EUA fala em proteger os direitos dos criadores, mas o que isso significa? Até que ponto a justiça, com sua emblemática imagem de olhos vendados, alcança os seus propósitos de “proteger os criadores”? Os argumentos de alguns entrevistados caminham no esclarecimento dessas questões. Dr. Lawrence Ferrara, por exemplo, sobre as noções de propriedade intelectual e direitos autorais, pergunta: “quem é o dono? E do quê? Qual a função do direito autoral?” Representantes da indústria alegam que “as coisas ficaram fora do controle”. Controle de quê (quem)?
Por outro lado, em outubro de 2007 a banda inglesa Radiohead anunciou o lançamento do seu sétimo álbum, intitulado “In Rainbows”, e o disponibilizou para venda apenas pela internet. Sem contrato com a gravadora EMI e mantendo um estúdio próprio, a banda decidiu disponibilizar o disco em mp3 para download pelo preço de zero a 100 libras, de acordo com o que o cliente escolhesse pagar.
Apesar dos representantes da banda não terem disponibilizado nenhum número com relação às vendas, o Forbes.com revelou que já no primeiro dia do lançamento do disco, apesar de ser grátis no site oficial, 240 mil pessoas fizeram o download através do BitTorrent.